Há cerca de dois anos dei uma entrevista para a CÃnthia Dalla Valle sobre concursos literários, em função do texto que ela estava produzindo à época, Como escolher concursos literários. Encontrei a entrevista e achei pertinente publicá-la na Ãntegra.
Você acabou de ser finalista de um dos maiores concursos literários do paÃs, o Jabuti, com o livro Clube do Rock. Em algum momento da escrita do seu livro, algo foi pensado ou planejado tendo em vista esse ou outros concursos?
A gente nunca pode escrever pensando em prêmio, reconhecimento, mas esses prêmios mais institucionais buscam no texto aquelas caracterÃsticas que trabalhamos na academia, nas oficinas: subtexto, intensidade, concisão, polissemia. Além de estarem muito atentos a temas sociais contemporâneos, candentes e necessários. E acho que Clube do Rock tem tudo isso, além de um manejo com técnicas linguÃsticas como gêneros textuais variados, polifonia e troca de narrador que funcionam muito bem.
Você acredita que ter participado de concursos anteriores tenha ajudado a chegar neste resultado? Por quê?
Acredito que a gente vai amadurecendo a cada livro, este é um livro que sinto orgulho de ter escrito porque percebo um melhor uso das ferramentas técnicas que aprendi ao longo do tempo. Também acho importante que seja um livro que, mesmo enquadrado como juvenil pelos protagonistas e temática juvenil, possa ser lido e ser significante para leitores de todas as idades.
Como o fator prazo influencia no planejamento de uma obra? Qual foi o tempo para planejar e elaborar o seu livro?
Não se pode escrever um livro com pressa, embora seja importante estabelecer alguns prazos para que a ideia não perca fôlego, não se arraste demais. Este livro começamos a escrever em meados de 2019, e a primeira ideia era lançar na Feira do Livro daquele ano. Acabou atrasando o processo, até em função de ser um livro a quatro mãos, e apenas a partir de dezembro que deslanchou, ficando pronto em meados de 2020. Optamos por lançar mesmo com a pandemia, mas o reconhecimento tem chegado mesmo em 2021, com o Prêmio Jabuti, o Prêmio AGES e a visibilidade que o livro teve na Feira do Livro, ficando entre os 5 mais vendidos do estande da Editora Metamorfose.
Como você lida com a ansiedade e a vontade de ganhar ou de se ser finalista de um concurso?
No começo eu era muito inseguro em relação ao meu trabalho, talvez por começar muito novo, talvez por vaidade, então havia uma certa ânsia pelos concursos e admiração pelas pessoas que os conquistavam. Só que eu, com exceção do Prêmio AGES, patinava e não conseguia relevância nos concursos. Aà com o tempo relaxei quanto a isso, entendi melhor a dinâmica do meio literário e aos poucos, naturalmente, começaram a vir alguns prêmios surpreendentes, que vistos em conjunto me enchem de orgulho: finalista do Açorianos, finalista do Jabuti e Prêmio Livro do Ano AGES, ou seja, o livro mais votado entre todas as categorias.
Você acredita que ganhar ou ser finalista de um concurso literário pode mudar a vida de um escritor? Quais os benefÃcios deste reconhecimento, na sua opinião?
Um prêmio não muda objetivamente, pelo menos não a maioria dos prêmios (talvez ganhar um Jabuti ou um Prêmio SESC mude). Mas o conjunto de prêmio começa dar credibilidade para um autor, uma editora. E, claro, o prêmio motiva demais, então é natural que um reconhecimento desses te motive a continuar trabalhando, escrevendo, divulgando. O risco é ficar refém dos prêmios, frustrar-se por não figurar neles com determinado livro, pois não podemos perder de vista o quão difÃcil é para um livro se destacar entre as centenas que são produzidos todo ano.
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