Todos os anos vou à feira de livros que acontece na minha cidade, sempre na expectativa de encontrar um livro que, independente do autor, me convença a comprá-lo. Foi assim que encontrei o romance Mr. Pip, do jornalista e escritor neozelandês Lloyd Jones.
O livro foi me atraindo aos poucos, primeiro, pela linda capa da Sílvia Nozelos (na 1.ª edição da editora portuguesa Editorial Estampa), depois por ler na orelha do livro que Lloyd Jones gosta, entre outras coisas, de café — explico: para mim, café remete a uma boa conversa entre amigos; e também pela informação de que o autor recebeu em 2007, com Mr. Pip, dois grandes prêmios: O do Commonwealth writerÂ’s Prize Overall Best Book Award, e do Commonwealth WriterÂ’s Prize for Best Book East Asia and South Pacific.
Mais ainda faltava o que realmente me leva a decidir ler ou não um livro: a resenha na contracapa. E a resenha de Mr. Pip, nessa edição, termina dizendo: Um livro belo como a esperança, duro como todas as guerras. Pronto, fui fisgada.
Mr. Pip, que também foi filmado, chegando as telas dos cinemas numa produção de 1992, tem como pano de fundo a guerra civil em Bougainville, uma pequena ilha da Papua-Nova Guiné, no sudoeste do Pacífico, que resultou em milhares de mortes e levou muitos a fugirem de suas casas e nunca mais retornarem. Em entrevista para um jornal, Lloyd Jones revelou que, após o fim da guerra, visitou a ilha; e foi nessa visita que Mr. Pipe começou a tomar formar
Dizer que esse romance é a história de como uma jovem - Matilda - é profundamente tocada pela leitura do livro Grandes Esperanças, de Charles Dickens, gerando nela seus próprios sonhos que a levariam a uma nova vida, seria reduzir a obra. Lloyd Jones discorre sobre a alma humana e todos os seus sofrimentos e vaidades. Esse romance é muito mais.
Em Mr. Pip, assim como Dickens captura Matilda e a transporta à Inglaterra do seu tempo, Lloyd Jones nos captura e nos leva à Bougainville; o autor nos faz vivenciar, no percurso da história de cada personagem, esperanças e desilusões, amores e renúncias, fraquezas e empatias, escolhas e perdas, egoísmos e redenções, fugas e retornos.
Mr. Pip é daquelas obras que, ao terminarmos a sua leitura, nos deixam com a certeza de que não conseguimos perceber todo o ensino contido nas muitas camadas da sua história: talvez pela pressa com que avançamos página a página, ávidos por saber o que se segue.
Mr. Pip, como poucos livros conseguem fazer, me chama, do seu lugar na estante dos preferidos, a uma nova leitura, para novas descobertas.