"Gostaria que isso fosse uma história de amor porque sei o que acontece numa história como a minha, em que o único respiro fica nos espaços entre as linhas."
Sadie é uma jovem com uma vida complicada. Aos dezenove anos, ela é responsável pela irmã mais nova, Mattie, de treze. Faz três anos que a mãe delas foi embora e abandonou as garotas. Desde então, Sadie fez o possível e o impossível para criar a irmã.
No entanto, quando a caçula desapareceu e, após alguns dias, seu corpo é encontrado, o mundo de Sadie desaba. Ela embarca em sua própria investigação já que a polícia não parece estar interessada no caso. É quando surge o jornalista West McCray que começa a ir atrás do paradeiro de Sadie após a avó de consideração das garotas pedir isso a ele, pois ela também está desaparecida.
"Isso é uma verdadeira tragédia, falando sério. É uma tristeza quando as pessoas não percebem o próprio valor."
O livro se divide em duas narrativas. Na primeira, acompanhamos Sadie indo atrás do assassino de sua irmã e lidando com sua gagueira. Apesar da narrativa de Sadie aparentar ser no presente, ela é no passado tendo em vista que a garota está desaparecida há meses. Na segunda, vemos West contextualizando sobre a vida das irmãs e conhecendo as pessoas ao redor delas, contando, de fato, no presente. Através dessas vozes, que são intercaladas na narrativa, a autora, Courtney Summers, prende o leitor na história o conectando com os personagens.
"?Como se perdoa as pessoas que deveriam te proteger? Às vezes, não sei do que mais sinto falta: de tudo que perdi ou de tudo que nunca tive."
A forma com que Summers aborda assuntos complicados, como abuso e violência, é de forma realista, sem se esquivar da crueldade. Além disso, a autora criou uma protagonista profunda, cheia de determinação e raiva. Não diria que Sadie é uma típica heroína - nem ao menos a chamaria assim -, mas a personagem possui traços que torna impossível não torcer por ela.
A atmosfera do livro é intensa e sempre te faz querer mais. Mesmo o livro iniciando com essa pegada de tentar resolver o mistério por trás da morte de Mattie, a história vai além. Me vi curiosa para descobrir quais foram as vivências que a Sadie teve para sua personalidade ser moldada da forma que é e até mesmo pelo amor e cuidado que ela sentia pela caçula.
Nós, leitores, só descobrimos a verdade no final do livro, e com isso quero dizer as últimas páginas da trama. Não que Courtney Summers tenha enrolado para contar, tudo que vem antes é indispensável. Também o clímax acontece a todo momento e a revelação final funciona como o fechamento do livro ao invés de gerar mais discussões em cima da narrativa.
Não é uma história fácil de digerir, mas é necessária.