Claudio Varela, ator e professor, estreou como escritor com o livro de contos O que sei de você: histórias que poderiam ser suas. Produzido pela Editora Metamorfose, de Porto Alegre, a obra literária foi lançada em março, em Salvador. Tanto seu evento de lançamento, o qual presenciei, quanto sua recepção foram um sucesso, e a primeira edição do livro já se encontra esgotada.
A coletânea é constituÃda por quinze contos. Cada narrativa é precedida da indicação de uma composição musical. Essas canções, intencionalmente selecionadas pelo autor, estabelecem relações com os enredos das histórias e formam, também, uma interessante e sofisticada trilha sonora, uma “playlist” para leitoras e leitores adentrarem as portas da ambientação de cada narrativa. Os cenários retratados são similares, representam os espaços Ãntimos de residência pessoal e/ou familiar, mas despertam diferentes atmosferas e ambientações, à medida que a leitura nos torna observadores das personagens que ali convivem.
Todas essas histórias que poderiam ser nossas são apresentadas por intermédio de diálogos. O discurso direto prevalece, inclusive no conto “Queria não”, construÃdo como monólogo. A presença do discurso indireto, da voz de um narrador, é ocasional e atua, por vezes, como espécie de rubrica que apresenta algum elemento ou orientação relacionada ao contexto da cena.
Claudio Varela é ator, com formação e carreira no Teatro. Nota-se claramente, em sua escrita, personagens a interagirem através de diálogos elaborados com muita precisão, com a técnica apurada de quem conhece e se dedica à Dramaturgia, de quem compreende como um texto desperta o interesse e atinge a alma de quem o lê (ou assiste e escuta) e como um bom diálogo enriquece as personagens e valoriza a interpretação de artistas que as representem. No perÃodo em que atuava como revisor final do texto, essa era a minha percepção, uma vez que era tocado como leitor e também como espectador, pois cada conto atentamente lido se transformava mentalmente na materialização visual de uma cena. Posteriormente, o próprio Varela ratificou o acerto dessa recepção, ao confirmar que um de seus próximos projetos é representar a obra nos palcos.
Não só por sua qualidade literária, os textos são muito envolventes por abordarem emoções e apresentarem situações e histórias com as quais boa parte das leitoras e dos leitores tende a se identificar, em maior ou menor grau. Por isso, cria-se, de fato, essa impressão de que o autor revela o que sabe de nós, ou que suas histórias poderiam ser nossas. Essencialmente, são narrativas sobre relacionamentos humanos, sobre laços e distanciamentos, sobre encontros e desencontros, sobre diferentes relações afetivas representadas, de forma sensÃvel e sagaz, por meio de diálogos concatenados, muito inteligentes e precisos. Com essas caracterÃsticas, à s quais se soma a excelente representação da naturalidade da expressão oral nas situações cotidianas, a leitura da obra se torna fluida e envolvente. Essa é a fórmula do sucesso dessa ótima estreia de Claudio Varela, o qual tem sido confirmado pelas muitas manifestações e comentários apreciativos de leitoras e leitores.
Apontados todos esses aspectos positivos, concluo com a menção a mais dois detalhes para que, quiçá, despertem de vez o interesse pela leitura do livro de Claudio Varela em quem lê esta resenha. Além da temática principal da obra, o bem-humorado conto final, “Alô”, explicita um elemento composicional o qual pode ou ainda não ter sido compreendido na constituição da unidade na coletânea. Por fim, para atiçar ainda mais a curiosidade, a bela e agradável “playlist” organizada pelo escritor é disponibilizada, no final do livro, por intermédio de QR Codes para acesso no Deezer e no Spotify.
Enfim, “O que sei de você: histórias que poderiam ser suas” é dica certa de boa leitura e de boa música.