Uma plataforma de aprendizagem de línguas, que tem alcance global, operando com 15 mil tutores, publicou recentemente relatório no qual aponta quais são os livros que foram traduzidos no maior número de idiomas, em todo o mundo. Fez isso agrupando os países em listagens por continente e apontando um único representante de cada uma de um total de 195 nações. Mas existem algumas lacunas, como no caso da América do Sul, onde estão todos os nove países de língua espanhola, mais o Brasil e a Guiana, que é multilíngue com predominância do inglês. Não foram contempladas a Guiana Francesa e o Suriname. Talvez porque um dos critérios adotados tenha sido não levar em conta títulos que tenham sido traduzidos menos de cinco vezes. Outra providência dos organizadores foi descartar publicações de cunho religioso, como a Bíblia, o Alcorão e a Torá, entre outras.
Os números foram expostos em ordem decrescente, no que se refere às traduções. O Brasil ocupa o primeiro lugar na região, com O Alquimista, de Paulo Coelho, em 80 idiomas. Em segundo lugar está a Colômbia, com Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez (49). O terceiro posto, a medalha de bronze continental, ficou com o romance 2666, do chileno Roberto Bolaño (28). E a Argentina quase chegou ao pódio, com The Aleph, de Jorge Luis Borges (25), ficando em quarto lugar. No Brasil, Paulo Coelho vive na prática a máxima de que santo de casa não faz milagre. Ao menos entre a intelectualidade, onde seu prestígio é menor do que suas vendas. Mas O Alquimista, a primeira das suas obras, se tornou um bestseller internacional, tendo vendido mais de 150 milhões de cópias no mundo todo. Trata-se de um romance alegórico, que descreve a viagem de um jovem pastor andaluz até o Egito, depois de ter um sonho que se repetia, apontando que lá ele encontraria um tesouro. A primeira edição, em português, foi publicada em 1988.
Cem Anos de Solidão, por sua vez, foi publicado 21 anos antes, em maio de 1967. Desde então, vendeu mais de 50 milhões de exemplares. E o autor dessa que é uma das obras mais importantes de todos os tempos, na literatura latino-americana, foi ganhador de um Prêmio Nobel, no ano de 1982. Trata-se de um romance histórico em estilo conhecido como realismo mágico ou literatura fantástica. Com potência invejável, narra a ascensão e a queda da família Buendía, fundadora da cidade fictícia de Macondo. Roberto Bolaño segue outro caminho e apresenta em seu texto um realismo cru e um humor pessimista. Seu livro 2666 é composto por cinco romances distintos, porém interligados. Existem dois dramas que centralizam as histórias: uma série de assassinatos perpetrados na fronteira entre EUA e México; e a busca por um ator recluso. Isso tudo faz com a que edição ultrapasse mil páginas, mas a trama é de tal forma envolvente que o leitor fica atento até o final, uma vez que apenas nas últimas páginas o autor oferece a solução esperada, permitindo que o livro seja afinal compreendido em seu conjunto. A obra oferece reflexões sobre a natureza do mal e a relação existente entre cultura e violência, tudo com inteligência invejável.
Os outros sete incluídos na lista da América do Sul foram os seguintes: Venezuela, Dona Bárbara, de Rômulo Gallegos (22); Peru, A Casa Verde, de Mario Vargas Llosa (19); Equador, Huasipungo, de Jorge Icaza (16); Uruguai, As Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano (12); Paraguai, Filho do Homem, de Augusto Roa Bastos (10); Bolívia, Cem Poemas para Crianças, Oscar Alfaro (7); e Guiana, Palace of The Peacock, de Wilson Harris (6). Não vou citar os líderes das listagens da África, Europa e Ásia. Mas, em termos mundiais, os cinco primeiros da lista são O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry (França 382 idiomas); As Aventuras de Pinóquio, de Carlo Collodi (Itália 300); Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll (Inglaterra 175); Contos de Andersen, de Hans Christian Andersen (Dinamarca 160); e Testamento, de Taras Shevchenko (Ucrânia 150). Confesso a vocês que não me surpreendo com os livros apontados como os mais traduzidos, mas com o número de idiomas. Isso porque eu sequer sabia que ainda existiam tantos assim.