Ao digitar no Google a palavra “escândalo”, encontramos as seguintes definições : 1. fato ou acontecimento que contraria e ofende sentimentos, crenças ou convenções morais, sociais ou religiosa estabelecidas. 1.2. indignação, perplexidade ou sentimento de revolta provocados por ato que viola convenções morais e regras de decoro. Ou seja, é uma palavra bastante polêmica.
O poeta Affonso Romano Sant’Anna, em seu livro “A vida é um escândalo” (Rocco,2017), revestiu seus poemas com um verniz de crônica. Digo isso pelo fato dele ser um astuto observador da sociedade. São poemas que embora estejam em versos, carregam a escrita em prosa e muito bem detalhada.
Mais do que gerar sentimentos, SantÂ’Anna nos provoca, empurrando-nos a olhar o Brasil e a cidade do Rio de Janeiro não com os braços abertos e acolhedores do Cristo Redentor, mas com um insulamento e determinismo caracterÃstico de uma lagoa, como a Rodrigo de Freitas, que mesmo sendo conhecida como o “coração da cidade”, recebe diariamente as suas excreções: complexas e repletas de problemas.
Embora alguns poemas tenham sido escritos desde uma cobertura em Ipanema, Affonso Romano não nos deixa nenhum teto e proteção, nem tampouco uma vista agradável e edÃlica. Muito pelo contrário, revela-nos um cotidiano de alguém que já não sorri para qualquer coisa. Mas nem por isso podemos pensá-lo como um “muro das lamentações”, embora haja versos tão polissêmicos quanto salmos, não de uma BÃblica, Alcorão ou Tora, mas de um livro de memórias de quem viveu muito e acredita que tem algo a nos contar.
A poesia tem dessas coisas. Ela é precisão, potência e ressignificação. Affonso Romano Sant’Anna é ironia, chamamento e indagação. Esse “respiro” para a leitura, perante a clausura do nosso dia a dia, muitas vezes é o que nos empurra a viver. Alucinado, eu? Não. Apenas fui tocado, e desejo-lhe, caro leitor ou leitora, que aceite essa minha provocação como um convite. A vida é um escândalo!
André Rodrigues da Silva é Gerente de Patrimônio e Memória na Secretaria Municipal de Cultura de Ourinhos (SMC), Licenciado em História (UNESP) e Especialista em Gestão Pública Municipal (UEPG) e Gestão Cultural: cultura, desenvolvimento e mercado (SENAC-SP).