Inveja, de Iuri Uliécha
 



Inveja, de Iuri Uliécha

por Sandra Radin

Sempre gostei da literatura russa. Dostoiévski, Tolstói e Pasternak foram os primeiros escritores que me encantaram com seus estilos narrativos.

Na semana passada tive a felicidade e o prazer de ter em minhas mãos à obra Inveja, do escritor russo Iuri Uliécha (1899-1960) publicada em 1927. Essa novela faz parte das Narrativas Revolucionárias, publicada pela Editora 34 e dirigida por Bruno Barreto Gomide. Fazem parte dessas narrativas cinco obras de ficção as quais dialogam com a Revolução Russa de 1917.

Escritor de prosa ágil, usa frases curtas e impactantes. Nos envolve do começo ao fim com metáforas instigantes e originais as quais despertam no leitor a visualização e o envolvimento com a cena, como por exemplo: “…o coração pula como um ovo em água fervente.”

Em outro trecho ele escreve: “… você é, por assim dizer, um coágulo. Um coágulo de inveja da época que perece. A época que perece inveja aquilo que vai substituí-la.”

Essa última metáfora pode estar nos falando das cicatrizes, marcas e resistências de um tempo que ficou para trás mas também faz menção a forma como lidamos com nossas relações e sentimentos.

Que coágulos são esses que vamos acumulando em nossas vidas?

Uliécha desvenda com estilo único as contradições dos personagens tanto nos seus sentimentos quanto nas suas ambiguidades psicológicas. Isso fica bem demonstrado através do sentimento desenfreado de inveja que o protagonista, um jovem intelectual, sonhador e idealista fracassado, nutre pelo seu benfeitor, um homem bem sucedido e respeitado diretor de indústria do novo regime soviético. Aqui já aparece essa ambiguidade de interesses de cada um dos personagens.

No interdito, o autor ao fazer uma sátira social e política nos convida a questionar a validade da revolução comunista, sua ambiguidade e os caminhos que a mesma tomou.

 

Cadastre-se para receber dicas de escrita, aviso de concursos, artigos, etc publicados no portal EscritaCriativa.com.br