Na Natureza Selvagem
 



Na Natureza Selvagem

por Aline Peterson

Na Natureza Selvagem (Into the Wild) é um filme de 2007, dirigido por Sean Pean. Uma adaptação do livro homônimo e não ficcional de Jon Krakauer, baseado nas viagens de Christopher McCandless através da América do Norte em direção ao Alasca no início da década de 1990, o filme é uma mistura de sentimentos, transmitidos através de belíssimas imagens e uma espetacular trilha sonora, realizada por um inspiradíssimo Eddie Vedder. A participação do diretor de fotografia Eric Gautier (Diários de Motocicleta) é fundamental, pois põe em harmonia a relevância do protagonista Chris e da natureza a sua volta. Além disso, a sensibilidade do ator escolhido para protagonizar esse belo filme de Pean, Emile Hirsch (Alpha Dog), torna essa obra ainda mais excepcional. O que constatamos não é simples de explicar, mas vai da melancolia ao arrebatamento.

Christopher McCandless faz parte de uma família tradicional, que insiste em parecer levar a vida de um modo exemplar dentro do ambiente em que vivem, perfeitamente integrada em uma sociedade de valores e normas. Captando melancolicamente a paisagem americana, o filme nos apresenta a partida de Christopher em busca de algo maior, sob a necessidade de decidir-se em face de um confronto de valores, passando por conflitos e por situações que são para ele o limite. No limite, são revelados aspectos essenciais da vida, que se manifestam, como em um momento de luz, na plena concreção do ser humano como indivíduo.

A busca por aventura é, para Christopher, a busca por crescimento. Nesse sentido, o filme se aproxima do espectador, pois contemplando algo que parece distante, entendemos que, por vezes, aquelas também são nossas angústias, nossos limites. Um filme pode nos possibilitar viver e contemplar uma possibilidade, graças a seu modo de ser irreal, graças aos conceitos que se referem a realidades sem se referirem a seres reais, graças ao seu modo de parecer palpável e sensível. Talvez seja essa a mais bela incumbência do cinema: mostrar ao espectador a realidade naquilo que parece ser ficção, mostrar que a realidade pode ser aquilo que está na tela, e o que vivemos às vezes não passa de uma simulação.

Chris testemunha a agonia da solidão que às vezes toma aqueles que são incompreendidos, mesmo estando na presença de muitas pessoas. Chris precisa de mais espaço, pois sabe que tem dentro dele algo que já não cabe mais no lugar onde vive, algo que o dinheiro não pode comprar. Ele encontra a natureza e se encontra nela, e então nos ensina que estar só pode significar mais, pode fazer com que aprendamos sobre nós mesmos, pode fazer com que passemos a aproveitar os instantes mais triviais, a valorizar cada segundo que temos a ventura de viver. Hipnotizando-nos com suas imagens e sons, o filme nos apresenta a importância de cada ser existente, da realidade que existe em nossa volta, seus encantos e seus perigos. Na maioria das vezes não dos damos conta dela, mas ela está ali, e cada respiro, cada brisa, cada pequeno movimento faz parte de algo muito maior, é a essência da própria vida.

Não poderemos jamais saber se Chris era um resultado de uma sociedade perturbada e doentia, ou se era apenas um jovem que arriscava tudo, que vivia intensamente. Mas sabemos que sua busca o levou onde talvez nem ele imaginasse, e o fez ultrapassar seus próprios extremos. Talvez a passagem do tempo seja rápida demais, e nem sempre dê tempo de voltar. Talvez o que Chris viveu seja sempre um mistério, algo que nossa solitária e aprisionada sociedade possivelmente nunca compreenderá.


Aline Peterson, graduada em Letras e mestra em Literatura Comparada. Tradutora, revisora e professora de Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Literatura. É fascinada por Cinema, Literatura e Música. Adora escrever contos. Blog: alinepetersons.wixsite.com/ontheroad

 

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