Diz-se que acabou a era do politicamente correto. Ninguém entendeu bem exatamente o que isso significa, mas de minha parte já vai tarde, o termo é péssimo. Proponho que se mude para potencialmente ofensivo.
Evitar usar termos pejorativos como "negrada", "judiaria" ou "mangolão" não tem nada de polÃtico e nem mesmo de correto. É uma questão de civilidade, empatia. Se alguém pode se ofender com um termo, uma cena ou um estereótipo, você tem a obrigação de se perguntar: eu quero mesmo manter isso?
Talvez você argumente que as pessoas não deveriam se ofender com "tão pouco", que um judeu não deveria se ofender com o termo "judiaria" ou mesmo que as loiras deveriam entender como uma homenagem as piadas de "loira burra". Mas não temos o controle sobre o sentimento das pessoas, então se uma palavra, frase, cena ou construção tem o potencial de ofender um grupo social, você deve refletir sobre o peso de utilizá-la. Não é uma questão de ser ou não politicamente correto. É de respeito.
Eu, por exemplo, quando criança e adolescente sempre ouvia e repetia piadas sobre mancos, coxos ou deficientes em geral. Achava graça. Até que meu pai teve um AVC, ficou tetraplégico e nunca mais consegui ouvir as piadas desse tipo nos programas de rádio que ele ouvia em cima da cama, por exemplo, do mesmo jeito. A gente só percebe o potencial ofensivo desse tipo de “brincadeira” quando passamos para o outro lado. Mas não deveria, não precisaria ser assim.
Claro que se o autor quiser usar a construção potencialmente ofensiva, seja na voz do narrador ou da personagem, é uma escolha consciente e ele não deve ser proibido. Embora também a editora possa não se achar à vontade para publicar o texto com determinado trecho. O que defendo não é a censura nem mesmo o mascaramento dessas questões sociais, e sim o fato de que muitos usam sem se dar conta, sem perceber que podem ofender e com isso, no mÃnimo, perdem leitores.
Além das palavras que hoje estão no centro de disputas socioculturais, é preciso ter um cuidado enorme com generalizações. Certa vez um aluno começou um texto assim: “Ela fingia, como toda moça faz, com um sorriso no rosto”. Como assim “toda moça faz”? E isso era frase do narrador, não de algum personagem machista ou limitado. Passou batido pelo autor, não era essa a temática do texto, soou natural para ele até que eu o alertei e ele me agradeceu muitÃssimo por isso.
Talvez haja exagero? Talvez. Mas estamos em um momento de descoberta dessas questões, do poder da palavra, da construção de empatia, então pode levar um tempo para termos um equilÃbrio e estarmos mais seguros para usar ou não construções como “todxs alunxs”, que eu particularmente não uso, mas entendo e respeito quem use.
Importante, nesse momento, é demonstrar que evitar termos como "negrada", "judiaria" ou "mangolão" não tem nada a ver com direita ou esquerda, com liberdade ou censura, com ser tradicional ou moderno, com o tal politicamente correto. É uma questão de civilidade, de respeitar nosso possÃvel leitor, evitando assim construções potencialmente ofensivas.