Movimentos possíveis e necessários: um país sem Ministério da Cultura
 



Movimentos possíveis e necessários: um país sem Ministério da Cultura

por Maurem Kayna

Voltamos a viver em um país sem Ministério da Cultura. “E daí”, dirão alguns (muitos, aliás). Esse descaso pode ter duas razões: ou porque consideravam a atuação aquém do necessário ou, lamentavelmente, por acreditarem que o tema não é prioridade em um contexto de tantas necessidades vitais (e a cultura também não é parte inseparável da vida de uma sociedade!?) como o nosso. Fato posto, consequências ainda não dimensionadas e por vivenciar, não vou me concentrar na crítica do quão nefasta (porque não isenta de claros propósitos) pode ser essa medida a longo prazo. Quero explorar as ações concretas, que dependem de nós, indivíduos comuns da sociedade, que possam ajudar a contornar os eventuais danos.

E começo a exploração – na qual me estenderei nos próximos quatro artigos – falando da experiência de um grupo de apaixonados pela literatura que se reuniu em Guaíba ao longo de 2018.

Isso aconteceu a partir da provocação de uma escritora local que integra o Conselho Municipal de Políticas Culturais – a Débora Jardim – e que conseguiu mobilizar vários outros escritores, ilustradores e pessoas interessadas em promover a leitura na cidade. Esse movimento resultou na criação de um coletivo chamado CELIG – Central da Literatura de Guaíba. O propósito, além de divulgar a literatura local é bem ambicioso: transformar Guaíba em uma cidade de leitores.

Toda a ideia começou a ser gestada durante a Feira do Livro de Guaíba, que aconteceu no mês de maio. A partir dali, além de ocupar espaço fixo em uma rádio comunitária para discutir a relevância da leitura, da literatura e da cultura como um todo na formação da cidadania, foram organizados cinco saraus literários abordando diferentes temáticas, iniciou-se o clube de leitura Leia Mulheres, realizaram-se oficinas de ilustração, escrita criativa e mecanismos de divulgação para autores independentes e, ainda, promoveu-se a aproximação com outros grupos da cidade. No final de novembro de 2018, uma parceria com o Café com Letras (um grupo literário que se reúne mensalmente desde 2016) resultou na Primeira Virada Cultural do município, que ocupou o espaço da Biblioteca Pública Municipal Darcy Azambuja. Outra parceria, também envolvendo o Café com Letras e o Leia Logo (um grupo que espalha poesia pelas ruas da cidade usando colagens) está trabalhando em uma publicação coletiva com autores nativos ou residentes da cidade.

Com isso, dá para dizer que o desafio lançado durante a Feira do Livro de Guaíba foi superado. Aliás, o simples fato de manter um grupo de pessoas unidas e mobilizadas em prol de um objetivo comum, mesmo com todas as correrias, agendas lotadas e grana escassa, já é coisa de se comemorar. E os planos para 2019, além de manter as atividades já estruturadas em 2018, incluem pensar ações mais próximas dos bairros e periferias da cidade.

Se quiser saber um pouco mais desse coletivo e dos demais grupos, das ideias que o animam, procure por CELIG nas redes sociais e se inspire a começar ou continuar engajando-se para mudar o mundo através das ações miúdas, cotidianas, frase a frase, assim vamos formando os parágrafos e páginas da realidade que queremos.

 

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