Ao ter em mãos a oportunidade de expor os seus escritos, muitas vezes a imensidão do papel ou da tela impõe ao escritor um verdadeiro pavor. Esse medo que surge, às vezes, não vem do que ele não sabe o que escrever, mas do tumulto das palavras e ideias que povoam a sua mente. O acúmulo dessas ideias, o ferver das vontades pode também ter o poder de apagão literário.
Quantas vezes o escritor é empurrado pela obrigatoriedade do produzir? De ter, enfim, algo a ser publicado? Mas quantas dessas vezes ele é paralisado pela grandiosidade de vontades que surgem em seu ser? Escrever ou não escrever? Eis a questão. Será ele, neste momento, dono da sua escrita? Pode, como criatura pura e dona do seu próprio destino e estilo escrever o que vier na sua cabeça? Um livro de receitas? Um artigo de polÃtica? Suas opiniões? Venderia? Qual seria a reação dos seus leitores ao se deparar com um texto cômico vindo de um escritor renomado e consagrado pelos seus textos bem embasados de verdades econômicas? Conseguiria o leitor soltar seu riso ao ler um texto dramático de um autor genuinamente cômico? Qual seria a reação ao ter em mãos o que não escolheu ter?
Imaginem a cena: você conhece o autor, compra o ingresso daquela peça porque sabe, ou mais ou menos sabe, o que encontrará no palco e, de repente, não é nada disso. Você levanta no meio do espetáculo indignado ou espera até o fim, demonstrando ser bem educado? Recomendaria essa peça ou passaria a desmoralizar o autor outrora amado? E se fosse com um livro? Ao ter em mãos uma obra bem diferente da esperada escrita pelo seu autor preferido,você terminaria a leitura, pagando para ver? Guardaria o exemplar com cara de ludibriado? Ou se sentiria enganado e rompia as relações com o escritor amado?
Desta forma, o escritor, ao se deparar frente a frente com uma tela vazia ou uma folha em branco pode pensar duas vezes entre permanecer no mesmo ou inovar. Afinal, sua produção escrita, embora manifestação artÃstica é meio para sua sobrevivência. E agora, escritor? Ser fiel à sua linha de pensamento publicado ou ser fiel ao seu rompante criativo? Inúmeras indagações povoam a mente de quem gosta ou precisa produzir. Portanto, o ato de criar não deixa de ser um ato de escolha entre o querer e o precisar. Entre o pavor do vazio e um fervilhão de novas ideias, qual seria a pior escravidão do escritor?