Ghostwriting
 



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entrevista com Cinthia Dalla Valle


Se pensarmos na tradução do termo, ghost writer se dá por "escritor fantasma". Mas calma, não é um espírito escrevendo um livro, pelo menos não nesse caso. O ghost writer nada mais é do que um facilitador, um profissional que escreve um livro para outra pessoa, ou melhor, no lugar dela. Ghostwriting é um trabalho requisitado por aqueles que não tem intimidade com a escrita, ou tempo para escrever (ou os dois), mas tem algum conhecimento para passar adiante.


Conversamos com a ghostwriter Cinthia Dalla Valle, publicitária de formação, escritora e ghost writer, com certificação internacional em storytelling e diversos cursos na área da escrita, ela possui 20 anos de experiência em Redação. Para Cinthia, escrever liberta propósitos, e ela ajuda pessoas e empresas a deixarem seu legado no mundo, por meio da escrita, por meio dos livros. Ela também tem obras próprias, "Existe vida antes do primeiro livro" e "Donas de si", ambas publicadas pela Editora Metamorfose.

Para Cinthia, o primeiro passo é ter uma conversa com o contratante, conhecer a demanda da pessoa, objetivos, porque ela quer escrever um livro. Posteriormente, a partir do que foi discutido na conversa, é feita uma proposta, e se o autor estiver de acordo, um contrato é assinado. Em seguida, é criado um cronograma em conjunto, organizando as agendas das partes e definindo datas e quantidade de encontros. O quarto momento, e a parte mais densa do trabalho, é a série de entrevistas e reuniões para definir todos os detalhes sobre o livro. Por fim, depois da coleta de informações, a ghost writer parte para escrita, e assim que finalizada, apresenta para o cliente a primeira amostra, na qual são acertadas questões de linguagem, conteúdo, etc.

Confira abaixo a entrevista que fizemos com a autora na íntegra:

Cinthia, na sua aula sobre ghostwriting e biografia, você comenta sobre "ser menos fantasma". Como isso acontece? Essa menção a tua pessoa no livro parte de ti, do contratante? Já teve algum problema com isso?

Ser menos fantasma é ter alguma menção ao nome do ghost writer na ficha catalográfica do livro e o ideal é que essa atitude parta do contratante, mas a verdade é que nem ele sabe como mencionar os créditos ou a participação do ghost writer. Portanto, podemos sugerir as opções para o cliente mais próximo do final do projeto, na etapa da edição. No caso de uma autobiografia, escrita em primeira pessoa, é mais difícil o cliente querer mencionar o ghost, mas no caso de biografias, escrita em terceira pessoa, é mais natural. Eu, particularmente, nunca tive problema com isso, sempre deixo ele optar.

Precisa ter alguma formação específica para ser ghost writer? O que é preciso estudar para se tornar um?

Geralmente, quem se interessa por este tipo de trabalho são pessoas formadas ou em formação em humanas, como jornalistas, publicitários, professores (letras) e historiadores. Mas não existe uma regra ou uma exigência nesse sentido. Acredito que esses cursos sejam facilitadores para este trabalho, entretanto, se a pessoa não tem essas formações, ela pode fazer cursos de escrita, de literatura e ler muito para formar uma base. É uma pena que não exista nenhum curso de "escuta ativa" porque seria perfeito para ser um ghost writer ou biógrafo preparado para essa missão.

Tendo feito a formação necessária, cursos, etc., como começar? Como ter o primeiro trabalho? Em relação a editoras, por exemplo, há testes para ghost writers como há para tradutores?

O primeiro passo é divulgar o seu nome e o seu trabalho na internet e nas redes sociais. As pessoas precisam te enxergar como um ghost writer ou como um biógrafo, mesmo que você não tenha experiência. Se a pessoa é escritora de seus próprios livros ou textos compartilhados, é mais fácil esse convencimento. Uma forma de fazer o primeiro trabalho é escrever para pessoas próximas, familiares ou amigos. No início, o profissional pode fazer um bom desconto para ter um case, mesmo que não possa mostrar o livro, o que importa é a segurança adquirida no trabalho.

Algumas editoras fazem testes com ghost writers, geralmente pedem para criarem a introdução e deixam os autores/clientes escolherem a melhor opção. Mas a melhor forma é ter um nome forte para que o cliente já chegue na editora com o ghost writer escolhido, no caso, o seu.

Como funciona a criação de portfólio para um ghost writer, tendo em vista que não assinar o trabalho como seu é a concepção principal do trabalho?

Esse é um dos maiores desafios, mas existem formas para não ficar refém disso. O ghost writer é, antes de tudo, um escritor e, como tal, deve ter trabalhos autorais no seu portfólio (artigos, livros, poemas, crônicas, entre outros, dependendo do estilo de escrita). O ideal é que esses trabalhos sejam publicados e compartilhados na internet. Além disso, o profissional pode pedir autorização ao seu cliente para mostrar algum trabalho em que o sigilo foi acordado. Isso já aconteceu comigo, um interessado queria ter mais certeza se eu conseguiria atender às suas expectativas e pediu se eu poderia mostrar algum livro que eu tivesse escrito. Pedi autorização à minha cliente e consegui.  O que eu faço sempre é mostrar na minha apresentação os principais projetos sem inserir o nome do livro e o autor, mas explicando o que incluiu. Isso tudo atrelado a uma boa presença nas redes sociais que ajuda e muito o ghost writer a mostrar a sua competência na área mesmo com os limites envolvidos.

Como funciona a questão de lidar com os valores do ghost writer x os valores do contratante? Recusar o trabalho em caso de divergências, separar, conciliar? Como lidar com isso?

O ghost writer não precisa concordar com o contratante em relação aos valores e crenças, mas deve se sentir confortável em escrever como se fosse ele, caso contrário, os riscos de o trabalho não dar certo são grandes. Nas primeiras reuniões, o profissional já tem uma base de como é o cliente, no que acredita e o que será escrito no livro. É nessa etapa que ele deve ouvir a sua intuição, se o santo não bater, não há dinheiro que pague a incomodação. O ghost writer deve entender que ele não é o autor, ele é um facilitador da obra, pensando dessa forma, fica mais fácil encarar as divergências. Isso não impede de ele, sempre que se deparar com alguma questão ética, avisar o cliente das possíveis consequências daquela escrita, lembrando de todas as pessoas que podem ler o livro.

Em grande maioria, o trabalho do ghost writer se dá por publicação independente ou mediada por uma editora? Pode falar um pouco como funciona o mercado e o trabalho em si para essas diferentes opções?

Existem todos os tipos de demanda. Grandes editoras de livros técnicos e de autoajuda costumam indicar ghost writers para seus autores. É uma etapa natural do processo de publicação. E existem os autores independentes que desconhecem o processo de um livro e que buscam alguém para auxiliá-los porque não têm intimidade com a escrita e muitas vezes nem sabem por onde começar. Nesse caso, é importante que o ghost writer explique como o processo funciona e quais os possíveis caminhos para o cliente.

Leia também: Ghost Writer - o que é, como trabalhar e quem contrata


 

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