Contos
O mendigo
Claudio Antonio Santos Lima Carlos
Naquela manhã, Antônio saiu de casa mais apressado do que em outros dias. Era dia de uma reunião muito importante no trabalho, que definiria muitas coisas cruciais no seu futuro e de sua família. Levantou-se sem sequer fazer o café da manhã para sua esposa e filhos. Tomou um rápido banho, vestiu-se e desceu as escadas do prédio - não usou sequer o elevador - e alcançou a rua.
Logo lembrou que se não comesse algo, a fome poderia prejudicar sua performance na tão importante reunião. Mirou a padaria da esquina, meteu a mão no bolso e tirou uns trocados para pagar um salgadinho que comeria no caminho mesmo, dentro do metrô. Deixou cair algumas moedas no chão e praguejou. Abaixou-se para pegá-las e teve uma surpresa: reparou a presença de um mendigo, sentado a fitá-lo em seu atropelo. O infeliz sorriu para ele. Foi o suficiente.
Naquele instante, Antônio olhou nos olhos do mendigo andrajoso, mal-cheiroso, barbado, rastejante e indefeso. Imaginou, por uns instantes, que aquele homem um dia foi gestado, um dia nasceu, foi criança. Teve sonhos, fantasias, projetos, ideias, expectativas como ele. Mas estava ali, a olhá-lo. Sem revolta, conformado, tranquilo e prostrado na calçada. Invisível aos que vê passar com seus próprios sonhos, ideias, expectativas e pressa, como ele um dia sonhou ter.
Observava a pressa de pessoas como Antônio, numa perspectiva distante, esvaída em desditas impostas pela sua vida. Mas não expressava revolta, pelo contrário, até deu bom dia.
A partir daquela manhã apressada, Antônio passou a olhar também para baixo.
Claudio Lima Carlos é formado em Arquitetura e Urbanismo. Professor universitário desde 1990 e Doutor em Urbanismo (2008), possui artigos e livros publicados, nacional e internacionalmente, na área de arquitetura e urbanismo. Desde os anos 1980, lê e escreve poesias intuitivamente, por influência de seu pai, Hélio Lima Carlos. Tendo participado de algumas coletâneas e concursos e integra grupo de poetas e escritores amigos que se reúne periodicamente, desde o início dos anos 2000, batizado de "poexistência". Atualmente, está em busca de aprimoramento na área literária, no Curso de Formação de Escritores. Graças ao curso, escreveu seu primeiro conto, aqui publicado.
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