Maternidade
 



Cronicas

Maternidade

Riva Velmovitsky


Muitos casais têm aberto mão da paternidade. Pipocou na mídia recentemente a história do Porchat que se separou, segundo ele da mulher por quem é apaixonado, porque decidiu não ter filhos depois do casamento quando havia combinado anteriormente com a parceira que os teriam.

Posso dizer que a maternidade não é para os fracos e isso por experiência própria, porque me divorciei muito jovem e criei dois meninos. Mas vale cada minuto, mesmo quando você tenha de assistir um jogo do Vasco no Maracanã, no sábado à tarde, quando tem um prazo processual estourando na segunda feira. Mas o caçula, desde muito novo era apaixonado pelas jogadas do Bebeto. Aprendi a gostar de futebol. Gosto até hoje e ele já tem trinta e sete anos; sei também todas as regras do jogo.

Ou quando você exausta, cai no sono, numa tarde de feriado, deitada no chão onde brinca com o primogênito e ao acordar se depara com ele, todo pintado de pilot. E você não tem ideia de como vai tirar aquela tinta de seu rosto e seu corpo sem machucá-lo ou lhe causar alguma alergia.

As noites em claro são outro problema e os motivos são variados. O mais velho ficou sem dormir até completar dois anos. Simplesmente, trocava os dias pelas noites. Ainda lidamos com as febres, põe na banheira, tira da banheira, as doencinhas infantis, apesar de todas as vacinas modernas. E aí chega a adolescência, oh fase complicada, a voz que afina e que engrossa e que testa os limites da paciência de qualquer mãe.

- Tenho uma festa e meus amigos vão; eu também vou. Não quero você por lá.

- Vou te levar e vamos marcar o horário para eu te buscar, caso contrário, não vai. O Rio é uma cidade perigosa. Sem negociação.

Escolhem muito cedo a profissão, iniciam duas faculdades de uma vez, para ver o que querem de verdade, mas depois do vestibular e antes do início do ano letivo, trocam o dia pela noite. Não durmo novamente. Engraçado que os dois cumpriram o mesmo ritual, parece até um ritual de passagem. O mais velho me deixava insone com o Rock in Rio, muito longe da nossa casa. E os dois ainda com festinhas e barzinhos, nesse período entre o vestibular e a universidade. É um teste de sanidade.

Depois foram se acomodando, virando adultos, estudando e estagiando. E agora, são dois homens assentados na vida, de vez em quando, me pego pensando o que seria da mim sem eles. Não consigo nem imaginar.

Tive de dar conta dos dois e me virar também na profissão para pagar as contas deles. Aprendi muito com eles e com o mundo. Paciência é uma palavra-chave para lidar com clientes e coisas muitos chatas. Paciência que desenvolvi criando os dois. Cresci muito como ser humano e como profissional. Ao mesmo tempo, entendo a escolha de quem não quer filhos. O mundo está muito complicado. Acho que tive sorte.


Riva Velmovitsky, carioca, 69 anos, advogada em exercício na cidade do Rio de Janeiro, casada pela segunda vez, com dois filhos - Carlos e Guilherme- e dois enteados - Raphael e Bruno-. Aprendo a viver todos os dias com os quatro.

 

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