Domingo de Sol
 



Contos

Domingo de Sol

M. M. Maia


Tudo o que eu queria era um domingo tranquilo e relaxante. Passar uma tarde na praia tomando sol enquanto observo da areia os surfistas correndo com suas pranchas nos braços. Me concentro nisso enquanto meu Ford Ka está parado em um engarrafamento na descida da serra.

- Sério Bartolomeu? Você poderia ser um cachorro comportado e dormir a viagem toda.

É a terceira vez que Marcela reclama nos últimos trinta minutos, mas para ser justa com ela, talvez dos cinco indivíduos no carro ela é quem esteja mais sofrendo. Bartolomeu é um Golden Retriever, bem peludo que resolveu passar a viagem no colo de Marcela enquanto observa os carros da janela.

- Ele é um cachorro comportado. - responde Fernanda do outro lado do banco, ela é a dona do cachorro. - Você também não conseguiria dormir com esse calor.

- Podíamos abrir pelo menos as janelas da frente. - Sugiro com cuidado, mas recebo um olhar de repreensão de Karen, que está ao meu lado, no banco do passageiro.

- Você está maluca! - Fernanda parece indignada. - Bart pode querer pular, ele é bem grande, mas é muito ágil, sem percebermos ele já teria saltado do carro e atravessado a estrada e possivelmente teria sido atropelado por um caminhão!

- Olhe ao redor, Fê! Está tudo parado, mesmo se ele fosse um cachorro ninja e conseguisse escapar pela janela da frente não teria como ele ser atropelado!

Marcela está no limite, na verdade todas estamos, até mesmo Karen que é a mais calma de nós, sempre otimista e "good vibes", respira fundo e com olhos fechados.

- Alguma moto ainda poderia passar por cima dele!

Foi a resposta imediata de Fernanda. Depois disso todas nos calamos e tentamos não pensar no calor de trinta e cinco graus que estava fazendo e de como tínhamos que viajar em quatro pessoas e um cachorro com vidros fechados e sem ar-condicionado. A parte do ar-condicionado é minha culpa, ele está quebrado e eu não tive tempo para arrumá-lo antes da viagem.

- Vamos pensar positivo, vamos pensar que em algumas horas estaremos deitadas na praia, tomando um sol e bebendo geladinho de caipirinha na areia.

Karen sempre conseguia ver o copo meio cheio, fiquei feliz por ela estar naquele carro e ajudar a conter os ânimos.

- Pena que todo paulistano teve a mesma ideia que nós. - Marcela rebateu. Ela era o oposto de Karen, sempre pessimista, e a atual situação não ajudava em nada seu humor.

- O lado positivo disso querida, é que temos mais chances de conhecer pessoas novas.

À minha frente os carros começaram a se movimentar, lentamente, mas ainda assim era melhor que ficarmos parados.

Bartolomeu latiu empolgado por voltarmos a andar e Marcela suspirou alto.

Todas nós precisávamos de uma folguinha de São Paulo, das obrigações, da faculdade, trabalho e família. Aquele passeio deveria ser uma fuga do stress, precisávamos manter os pensamentos positivos.

Ligo o rádio e começamos a ouvir Noites de um verão qualquer, do Skank, uma banda que todas nós gostávamos quando éramos mais novas e uma das poucas que ainda agrada a todas nós.

Bartolomeu começa a uivar com a música.

-Espero realmente que consiga um bom lugar no sol. - Marcela parecia quase fazer uma prece, uma que todas nós compartilhávamos.

- É, acho que nem eu consigo ver o copo meio cheio agora. - Karen foi a única de nós que conseguiu emitir palavras.

Assim que descemos a serra, fomos recebidas por nuvens cinzas e chuva fria.

- Quem sabe no próximo domingo?

Bartolomeu late em resposta.


M. M. Maia nasceu no início da década de 90; os programas de TV eram terríveis, mas os desenhos eram sensacionais. Sempre morou em São Paulo, embora sonhe em envelhecer numa cidade calma.

Não leu metade dos livros que gostaria, e comprou menos da metade deles, a metade que merecia. Autora do livro: Cidade das Chamas - Crônicas do Continente. Participa do Curso Online de Formação de Escritores.

 

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