Cuidados ao escrever autoficção
 



Dica de Escrita

Cuidados ao escrever autoficção

Escrita Criativa


O primeiro amor, a morte precoce de um parente, uma viagem inesquecível. Todos nós já vivemos momentos em que pensamos "hmm...isso daria um livro". Há experiências que são tão marcantes, que algumas pessoas sentem necessidade de compartilhá-las por meio da literatura, quase como um movimento de catarse.

A forma como um autor decide contar essas experiências pode ir além do caráter meramente autobiográfico, rompendo com a realidade e com os fatos em si. Ou seja, ainda que o ponto de partida seja um episódio real, vivido por quem escreve, a história pode receber elementos da narrativa ficcional, com a adição ou omissão de personagens, nomes fictícios, e noções de tempo-espaço mais flexíveis.

Quando isso ocorre, tem-se o que chamamos de autoficção, um gênero cada vez mais comum na literatura contemporânea, o qual transita entre a autobiografia e a ficção. O conceito foi criado pelo romancista francês Serge Doubrovsky, na década de 1970, quando ele buscava uma definição para seu então recém-lançado romance "Fils" (1977). Doubrovsky foi categórico ao dizer:

"Autobiografia? Não, esse é um privilégio reservado aos importantes deste mundo, ao fim de suas vidas, e em belo estilo."

Nesse sentido, a ficcionalização de si permite a pessoas comuns contar uma história sobre a própria vida, o que nos leva a outra característica importante na autoficção, que é a narração em primeira pessoa, atribuindo ao autor o papel concomitante de narrador e personagem.

Quem escreve autoficção precisa tomar alguns cuidados para não correr o risco de contar um simples relato da vida real. Outro desafio é fazer com que o leitor se identifique com as dores e alegrias vividas pelo autor/narrador-personagem. Sobre isso, o escritor Leonardo Brasiliense, autor de "Três dúvidas" (2010) e "Roupas Sujas" (2017), dá algumas dicas:

> A obra vai tocar alguém, eu não vou escrever para deixá-la na minha gaveta, no meu computador.

> É preciso identificar, ou construir um laboratório, onde aquele tema e aqueles fatos possam mexer com os "demônios" do leitor, tanto quanto mexeram com os meus.

> O que te afeta, afeta não só pelo que tu sabes, mas muito pelo que tu não sabes.

> As coisas mais significativas, que fizeram um acontecimento mexer com teu afeto, talvez não sejam conhecidas por ti. Então, mesmo que se queira trabalhar com algo que aconteceu, sabendo disso, é preciso transformar isso em ficção.

> Eu até posso sentir uma dor, mas eu tenho que conseguir transformar isso em fingimento. Assim, consigo passar os elementos necessários para afetar o receptor da obra.

Confira no vídeo abaixo a opinião de Leonardo Brasiliense sobre os cuidados ao escrever autoficção:




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