Vai Brasil
 



Contos

Vai Brasil

Débora Pereira


De manhã acordo. Do lado direito vejo a pequena claridade de um dia tímido prestes a surgir. Do lado esquerdo, meu relógio de pulso, caneta e um copo de água. Hora de levantar. Ponho minhas Havaianas, com um tenro sentimento que de cinco bons minutos a mais na cama melhorariam meu humor. Ouço do lado de fora, na rua Dez, pessoas gritando "Vai Brasil, vai Brasil". Sintomas de euforia, animação e bravas reações de sorrisos se misturam com o som da atmosfera do Curado IV ao romper da aurora. Desço a velha escadaria que sustenta até hoje minha presença passageira e me organizo para preparar o café. Uma fatia de bolo, pão, manteiga e ovo frito. Sempre ligo a televisão para ver o que está transitando de notícias regionais e mundiais.

É um sábado e certeza de que não tem muita coisa de motivador ou interessante para preencher a minha mente. A primeira coisa que surge é uma propaganda de futebol. O Brasil irá competir com a Sérvia no Qatar. Na mesma hora franzo a testa. A equipe do Brasil estará jogando no final da tarde em um estádio imponente e suntuoso, com milhares de olhares fitos em jogadores conhecidíssimos da seleção, porém me veio um gatilho mental: será que essa Copa irá nos beneficiar?

Levanto da minha poltrona, se estou melhor, se estou pior, não sei ao certo. "Sinto que o Brasil, o melhor do mundo, será mais uma vez ressoado pelas ruas próximas de onde eu vivo. O Brasil talvez erga sua face mais uma vez", comento. Coloco o prato na pia de louças e pego o meu celular. Notícias positivas sobre a copa mundial enchem a tela do feed da minha rede social de um pouco mais de duzentos seguidores. O som do silêncio dominava a cozinha enquanto eu olhava um perfil jornalístico, somente se ouvia a pingueira da torneira que preenchia o vazio sonoro. O chão deslumbrava a poeira que passava sobre si. Olho para a parede acinzentada, "Vai ser um momento de glória, o Brasil vai ganhar outro título" falo sorrindo. Me organizo, tomo meu banho e me preparo para trabalhar.

São sete e vinte, o sol já está tomando o seu lugar de sempre, iluminando a rua ainda um pouco deserta. Camadas e mais camadas de fios pelos postes, casas simples e um bairro que desce a ladeira íngreme. Lá vai eu mais um dia, não um dia qualquer, mas o dia em que certamente chegaremos no pódio, "Vamos ganhar mais um nome". Eu olho para o lado, sinto minha autoestima melhorar à medida que penso no jogo, percebo que os poucos que estão ao meu redor têm o mesmo sentimento. Mas ao mesmo tempo indago: "O que mudou por aqui depois de tantas copas?" Eu olho o relógio, são sete e trinta e cinco. Mais uma vez surge outra reflexão: "Estou a tanto tempo trabalhando no mesmo lugar, o que a Copa fará por mim quando tudo terminar?". Levanto meu rosto e analiso o ambiente. Nada mudou.

DÉBORA PEREIRA é tecnóloga em Design de Moda, estuda inglês e é iniciante na Escrita Criativa. Uma apaixonada por gatos, café, design gráfico e guitarra. Nas horas vagas, entra no mundo da música e mergulha no universo do conhecimento. Segue a fundo para deslumbrar o caminho da escrita e aprender mais e mais. Participa do Curso Online de Formação de Escritores.

 

Cadastre-se para receber dicas de escrita, aviso de concursos, artigos, etc publicados no portal EscritaCriativa.com.br