Mestre do saber
 



Contos

Mestre do saber

Nanci Takahashi Passoni


As perguntas não se calavam em minha cabeça: por que tenho que decorar o nome de todos os ministros deste governo? E de suas obras, feito a Transamazônica a devastar as terras dos indígenas? OSPB é isso? Organização Social e Política Brasileira e EMC, Educação Moral e Cívica? É este o conteúdo que avalia a aprovação e notas? É privilegiar o ensino de informações pontuais em detrimento do raciocínio e da análise? Tenho que me condicionar e aceitar a disseminação de conteúdos limitados? Restritos conhecimentos? Você aceita? Concorda?

Querida mestra e hoje, mais que amiga, alguns anos à minha frente nas experiências e vivências do que chamamos existir, suportou os questionamentos meus e de todos os estudantes da mesma turma, que se inquietavam com o passar dos anos e com o desfile diário da restrição na liberdade de ideias, de reflexão e de criação.

Você realmente defendeu o que o livro do professor continha ou também tinha que se manter ao que era imposto pela chamada educação? A sobrevivência do pensar, mesmo que temporário, revelou divergências, discussões pautadas pelas diferenças de opiniões, o que seria a riqueza de ideais aos quatorze anos em 1973? E os seus valores, cara mestra, quais significados permaneceriam? O capital não era tema da disciplina, porém se fazia presente nas interações, relacionamentos e aprendizado que, na escola pública, indicava qualidade e na escola particular, a quantidade!

Você se lembra do AI5? "Brasil, ame-o ou deixe-o?" Programa de Alfabetização de Adultos? Dias difíceis para todos, inclusive para a resposta de prova sobre os símbolos do Brasil, disfarçados sob as cores do verde-amarelo e todos os seus significados, seja para o indivíduo, seja para o país.

Mestre, árduo e relevante seu ofício, que ultrapassa a história, seus tempos e temporais!

O reconhecimento vão na baixa remuneração e na premiação pelo descanso merecido, a vocação de ensinar nas localizações mais distantes e até despovoadas, sob chuva, frio ou qualquer estação nas grandes extensões territoriais de tão imenso Brasil!

Ah, que realidade tão densa e insólita que dificulta a missão de dividir a sabedoria e estimular a cultura, o pensar e agir, a arte e o cálculo, a ciência e a pesquisa, a curiosidade de inspirar o modelo do ensinar e recriar os mestres!

Passado descortinado e tão presente sob os raios do sol atual, que teima em continuar rumando pelos ensinamentos desde os mais simples e tão difíceis até os mais complexos e não palatáveis.

Que passado tão atual!

Que não deixemos passar mais, que o mestre seja a verdadeira semente de um novo porvir, de saberes e conhecimentos que floresçam na educação e liberdade de cada dia e cada criança, jovem, adulto, que consiga brotar a flor do educar!

A dignidade de uma remuneração de valor e o respeito pela vocação sejam o presente profissional de uma professora a desbravar as mentes em branco para o caminho do aprendizado, do conhecimento e pensamento para a educação e formação de uma sociedade mais justa e igualitária.

Os caminhos cotidianos abrindo alas ao colorido, à esperança de dias melhores que podem ser reconstruídos, principiando pela leitura de si e das obras e escritos, além das contas de chegar aliviando a fome de entender, de comer, de plantar e colher.

Salve o mestre, viva a sabedoria!


Nanci Takahashi Passoni nasceu em Guararapes, SP em 1958. É psicóloga formada pela UNESP, com pós-graduação em Administração de Recursos Humanos e diversos cursos de especialização em gente e gestão, área em que atuou por mais de trinta anos.
Atualmente, dedica-se ao estudo da Escrita Criativa. Participa do Curso Online de Formação de Escritores.

 

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