Conselho de Classe
 



Contos

Conselho de Classe

Geni Oliveira


Final de bimestre. Professores apressados, alguns mal conhecendo os alunos. Várias turmas numerosas e poucas horas semanais por disciplina levam a isso. Mesmo assim, ali muitas decisões são tomadas. Algumas levianamente. Momento para troca de experiências, o medo de cometer erros, injustiças quando algo sério é discutido. Vidas em jogo. Sempre uma mensagem estereotipada, meio fora da realidade, a nossa espera. A escola que temos, a escola que queremos e tudo continuará igual ou pior.

Foi num desses conselhos de classe que a conheci. Elegante, culta, atualizada, destacando-se entre os colegas. Trabalhava na nossa escola, que era pública, e numa conceituada escola particular. Uma das colegas, meio aflita, perguntou como tratar os alunos do turno da noite. Prontamente, ela respondeu:

- Trata como marginais.

Silêncio constrangedor na sala. Brincadeira de mau gosto? Ninguém tem o direito de tratar alunos como marginais. Um calor me subiu ao rosto e, meio rouca, falei que não era assim que eles deveriam ser tratados. Falei que até mesmo os professores que atuam nos presídios não têm o direito de tratar alunos dessa forma. Entre professores e alunos existe um código de honra baseado em respeito. É uma troca de experiências que vai além do processo ensino-aprendizagem.

Alguns colegas olharam as horas. Mais uma vez eu estava tumultuando o conselho. No dia anterior, fora a discussão sobre a aprovação de uma aluna cega e a minha argumentação sobre as limitações da inclusão atrapalhava quem queria ir cedo para casa. Perguntaram o que eu ganhava com isso.

Malvista por participar das greves, às vezes, a única do turno no qual atuava, questionada por ter aprendido Braille e me inscrever em seminários e cursos de atualização, pois achavam que seriam cobrados pelo seu desinteresse, envergonhava-me quando algum colega dizia que ganhava pouco para perder tempo ensinando algo aos alunos.

Eu queria apenas exercer dignamente a minha profissão e, de alguma forma, ser lembrada como alguém que se importava com eles.


Geni Oliveira é professora aposentada graduada em História. Publicou em diversas antologias.Participou do Curso Online de Formação de Escritores e, em 2019, teve o privilégio de publicar seu livro individual de contos Tempo de Viver pela Editora Metamorfose.

 

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