Alívio
 



Contos

Alívio

Carol Canabarro


Envolvida em espessa escuridão, o mundo pesava sobre minhas costas e eu sufocava em água densa. Quanto mais movia, maior a agonia de não ter para onde ir ou no que segurar. Sozinha, encontrei uma corda. Talvez fosse esse o caminho. Enrosquei nela o pescoço, na esperança de arrancar o grito áspero da boca. As pessoas me chamavam e eu, sem saber como ou o que responder, me calava como mar congelado. Querem mais de mim do que posso dar. Tudo o que sou e tenho existe nessa pequena jaula e me basta.

O pulsar das paredes pressionava pele, carne, ossos. A corda encurtando as voltas me forçava a decidir: era hora de partir.

Esvaziada de energia, oprimida por uma vida onde já não mais cabia, num mundo que insistia em não me aceitar, cansada de falar e ninguém ouvir, desisti. Atravessei espaço e tempo carregando medo e dor. O peito espremido expulsou dos pulmões o líquido que antes era vida. E no choro compulsório, com uma única palmada, nasci.


Carol Canabarro apaixonada por literatura e animas. Foi atleta, garçonete, especuladora financeira e professora. Morreu duas vezes, ressuscitou em ambas. Hoje é escritora em construção e escrava de três gatos.

 

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