Clarissa passava as festas de final de ano na praia. Ia para lá em meados de dezembro com a mãe e voltava no início de março. O pai, que era autônomo, folgava dez dias direto, após esse período permanecia somente aos finais de semana, retornando à capital aos domingos à noite para trabalhar de segunda a sexta-feira.
Naquele ano, ao término da ceia de Natal, como de costume, seus pais lhe disseram que poderia ir até o pátio da casa verificar se Papai Noel havia trazido presentes. Sempre afirmavam que se durante o ano ela fosse boa aluna e boa filha, certamente haveria um presente escondido. Afinal, o bom velhinho presenteava as crianças comportadas. Bastava aguardar e procurar.
A noite estava quente. Ao abrir a porta da casa, Clarissa sentiu a leve e cálida brisa litorânea no rosto e nos cabelos. Saiu correndo em direção ao jardim, a parte frontal da casa estava mal iluminada em virtude da luz turva vinda do poste, localizado do outro lado da rua em frente à residência.
Seus olhos olhavam insistentemente para a grama, tentando localizar algo diferente no local. A ansiedade e excitação na procura de um presente atrapalhavam mais que o breu. Logo lhe veio à mente que talvez Papai Noel não lhe achasse tão ajuizada naquele ano. Afinal, teve dificuldade para aprender a ler e escrever. Precisou orar na Igreja São Pedro, próxima de casa, para ter sucesso na leitura de um livro.
Ainda parada e quase desistindo, visualizou no quintal um pacote branco grande com um laço vermelho próximo a uma das árvores. O coração estava batendo acelerado. Aproximou-se devagar e, com as mãos molhadas, Clarissa tateou o embrulho eufórica, concluindo que era uma bicicleta!
Rasgou o papel e lá estava ela: uma Caloi Ceci vermelha, com uma cesta branca na frente do guidão e rodinhas dos lados.
Clarissa, de olhos marejados, saltitava entorno do presente.
Em silêncio, o pai feliz assistiu à cena de longe sentado em sua cadeira de rodas e pensando que seria moleza ensinar a filha a ter equilíbrio para andar na magrela.
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Bibiana é advogada, gestora de pessoas e processos, especialista em direito securitário, contratos, processo civil, gateira, escritora iniciante e concluiu o curso de formação para escritores na Metamorfose. Participa do
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