Em um sussurro quase inaudível, Fernanda respondeu Não. Foi como se falasse pra si mesma, tentando se convencer de alguma coisa.
Perdão?, questionou o padre.
Não.Dessa vez o grito queimou sua garganta enquanto se virava para encarar os convidados sentados na nave. O noivo atônito não disse uma única palavra, e ela não se atrevia a olhá-lo.Largou o buquê de rosas amarelas no chão, puxou de sua cabeça um véu de vários metros, desfez o penteado, descalçou as luvas e as atirou em uma mulher enfatiotada que se postara a seu lado desde o início da cerimônia.
Saiu da igreja correndo antes que alguém tentasse abordá-la.
Na rua olhou para o céu como nunca antes e achou-o belo, apesar das pesadas nuvens gris que se fechavam sobre a cidade. Correu desabalada, atravessou a avenida sem se importar com os carros que buzinavam sem cessar.
Ela sabia aonde ir. Sempre soube, mesmo antes de entrar
naquela igreja, mesmo antes de aceitar um soberbo anel de noivado. Ela sabia onde queria estar e não pararia de correr até chegar.
As primeiras gotas de chuva bateram em seu rosto e lhe destituiu da máscara que usara até então. Já não era a mesma de alguns minutos atrás. Estava chegando cada vez mais perto, podia ouvir as crianças que giravam e sentir o cheiro das árvores. Já podia ver ao longe uma casinha velha, um homem triste e uma vida de amor sincero que a aguardava.