Meia-noite. Lá fora, as folhas do jardim farfalhavam ao vento, refletindo o pálido luar. Uma pequena mãozinha aciona a lâmpada de cabeceira. Um quarto mergulhado na penumbra, surge, com uma estante cheia de bonecas de olhos de vidro que a encaram interrogativamente. A mãozinha então aciona outro botão e espera com o cobertor sob a cabeça.
Ele surge à porta.
- O que foi dessa vez?
- Tem uma coisa ruim no armário.
- Já disse que é sua imaginação.
- Não é nada, eu escutei.
- Preciso dormir. Seja boazinha. Não tem nada no armário.
- Tá bom. Mas se eu chamar, você vem?
- Venho.
- Boa noite.
- Dorme bem, linda.
O quarto mergulhou na escuridão total outra vez. Durante um tempo dava somente para ouvir sua respiração acelerada e os batimentos de seu coraçãozinho. E o barulho de algo roçando na grade do armário... Ela senta-se bruscamente na cama, aperta o botão do chamado, acende a luz.
Novamente ele vem, com sono e chateado.
- De novo. Eu te falei que não tem nada no armário.
- Mas eu ouvi, era um barulho fazendo tec-tec-tec...
- Não tem barulho nenhum. Volta a dormir. Amanhã eu trabalho e tu tens aula.
- Tá bem... (Chorando).
Silêncio e escuridão de novo. Apenas o vento e a agitação das árvores. De repente a porta do armário começa a se abrir com um ruído: creeec...
Ela dessa vez não aperta o botão. Grita, grita tão alto que em segundos ele aparece em seu quarto. Com pena da sua reação infantil, resolve ser mais amigo e carinhoso dessa vez.
- Querida, queres que eu te mostre como não tem nada aqui?
- Ela, entre prantos, faz que sim com a cabeça.
- Então vamos lá, vou abrir a porta do armário! Um, dois e...
Quando chegou a contar três, virado de frente para o armário aberto, foi atingido em cheio por um grande facão. Sentada na cama, ela pôde ver a ponta da faca subindo pelas costas dele até a nuca. Quando seu corpo caiu sem vida no chão, foi que a criatura mostrou-se completamente, com seu saco a tiracolo, facão pingando sangue e seus dentes pretos e pontiagudos.
Comprimida contra a guarda da cama, ela tentou gritar, mas não emitiu nenhum som.
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