Elis Regina Carvalho Costa a Pimentinha nasceu em Porto Alegre, em 17 de março de 1945. Viveu por anos na Vila do IAPI, localizada na Zona Norte da cidade. Seu pai tinha ascendência indígena e a mãe era filha de imigrantes portugueses. Em termos musicais ela foi precoce: com menos de quatro anos “falava cantando”, impressionando as pessoas. Ainda pequena gostava de ouvir Emilinha Borba, Francisco Alves e a maior de suas paixões, Ângela Maria. Com 12 anos, em 1957, ela foi levada para participar do tradicional programa Clube do Guri, da Rádio Farroupilha, que era apresentado pelo radialista Ari Rego. Causou impressão tão boa que passou a integrar o grupo regular, de modo amador, sem cachê. A única recompensa era uma caixa de bombons oferecida pelo patrocinador.
No ano seguinte foi contratada pela Rádio Gaúcha, tornando-se uma profissional com apenas 13 anos. Em 1961 um gerente comercial da gravadora Continental, passando pela capital gaúcha, foi informado por Glênio Perez da existência de um talento que o deixaria abismado. Não deu outra: seus pais assinaram contrato para lançamento de dois discos e ela foi para o Rio de Janeiro, onde Carlos Imperial foi incumbido de produzir o seu de estreia. Depois disso retornou para Porto Alegre e só foi morar de fato na capital carioca em 31 de março de 1964, data que os militares adotaram como oficial para o golpe de 1º de abril. Ficou pouco por lá, iniciando a fase paulistana da sua vida em 1965.
Foi um ano glorioso para ela, que passou a apresentar o programa O Fino da Bossa, na TV Record, ao lado de Jair Rodrigues. Também interpretou a canção que foi vencedora do I Festival de Música Popular Brasileira: Arrastão, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, na TV Excelsior. Na mesma ocasião levou também o troféu Berimbau de Ouro de melhor intérprete. Mas, foi durante os anos 1970 que chegou ao auge, devido ao constante aprimoramento da técnica e domínio vocal. Também escolhia os melhores compositores e era acompanhada pela melhor geração de músicos, em seus discos.
Crítica feroz da ditadura militar, teve vários dos seus músicos sofrendo perseguição e sendo presos. Não a detinham em função da sua enorme popularidade, mas a atingiam assim de forma indireta. Em entrevista disse que o Brasil era “governado por gorilas”, ampliando o ódio da direita. Na ocasião foi obrigada a cantar o Hino Nacional durante um espetáculo em um estádio de futebol. Esta negociação em troca de mais segurança para os seus, rendeu forte crítica da esquerda. Engajada, participou de vários movimentos de renovação tanto política quanto cultural. Foi voz ativa na campanha pela anistia e retorno dos exilados brasileiros, com O Bêbado e o Equilibrista se tornando uma espécie de hino daquela iniciativa. Na letra é citado o irmão do Henfil, o sociólogo brasileiro Betinho.
Elis morreu na manhã de 19 de janeiro de 1982. A causa mortis oficial foi “intoxicação exógena, causada por agente químico cocaína mais álcool etílico”. Isso até hoje é questionado, persistindo a suspeita de que tenha sido forçada a ingestão das substâncias. Sob forte comoção, seu corpo foi velado no Teatro Bandeirantes antes de seguir em cortejo em uma viatura do Corpo de Bombeiros até o Cemitério do Morumbi. Estima-se em mais de 15 mil pessoas o número dos que compareceram neste momento final, na despedida.
Na próxima segunda-feira, 17 de março, Elis Regina estaria completando 80 anos, se ainda estivesse entre nós. A maior cantora gaúcha de todos os tempos e uma das mais relevantes do Brasil será, em função disso, homenageada com uma série de espetáculos musicais, audições de álbuns, mostra de filmes e visitas guiadas, tudo programado para o espaço que leva seu nome, na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre. São parceiros nessa iniciativa a Cinemateca Paulo Amorim e o Instituto Estadual de Música. A curadoria está a cargo da jornalista e pesquisadora musical Bruna Paulin.
O local preserva, desde 2005, boa parte do acervo da cantora. E agora, devido a esta data, está em fase final de uma reformulação. No dia 15 será reaberto com exposição de peças até agora pouco conhecidas por parte do público. Destaque para duas imagens da artista com o escritor Caio Fernando Abreu, que estava nos arquivos do Delfos Espaço de Documentação e Memória Cultural, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
No dia 16 haverá a participação da cantora Laila Garin, a protagonista aplaudida do espetáculo Elis, a Musical, que já foi visto por mais de 350 mil pessoas desde que entrou em cartaz, em 2013. Ela estará no Samba do Quintana e sabemos antecipadamente que no repertório estarão Tiro ao Álvaro, Madalena e O Bêbado e o Equilibrista, três dos sucessos imortalizados por Elis Regina. No dia seguinte haverá o show Laila Garin canta Elis em palco especial montado na Travessa dos Cataventos. Ela estará acompanhada de Claudia Elizeu, no piano; e de Thais Ferreira, no violoncelo. Previstas interpretações de Como Nossos Pais, Arrastão, Dois pra lá, dois prá cá e Fascinação, entre outras canções.
Voltando ao domingo (16), durante a manhã oito meninas com idades entre 8 e 13 anos se apresentarão, sob direção musical de Luciano Maia e preparação vocal de Paola Kirst. Esta ação integra o projeto Vozes do Acervo, promovido pelo Instituto Estadual de Música e Discoteca Natho Henn. Também acontecem gravações de episódios do podcast de Bruna Paulin, A História do Disco, várias ao longo de março. Nos dias 18 e 25 serão com plateia, na sala Luis Cosme, na Casa da Cultura, seguidas de audições comentadas de grandes álbuns da carreira de Elis. Já estão confirmadas as presenças dos convidados Juarez Fonseca, que é crítico musical, e Arthur de Faria, biógrafo da cantora.
Para concluir, um ciclo de cinema está programado, com destaque para o documentário Elis & Tom, só tinha de ser com você, de Roberto de Oliveira e Jom Tob Azulay. Esta projeção se repetirá nos dias 15 e 22, sendo seguida de visita mediada ao acervo. Para detalhes referentes à programação como um todo, saber os horários, por exemplo, recomendo verificação nos canais da Casa de Cultura Mário Quintana.
Publicado originalmente no Virtualidades Blog