Dalton Trevisan
 



Dalton Trevisan

por Tomaz Fantin de Souza

Cada vez que alguém me fala do direitismo e da vocação reacionária de Curitiba eu me lembro do Dalton Trevisan. A "europeia" capital paranaense, organizada e de habitantes fechados derrete nos contos do escritor falecido há pouco.

O vampiro de Curitiba escolheu o caminho do texto curto, seco, o coice no lugar do afago. Vários de seus livros tem apenas dois personagens: João e Maria. Todos se passam em Curitiba. Em poucas linhas trazia à vida os bordéis e os inferninhos. O boteco mais pé sujo.

Como bom vampiro, dizem que o escritor saia de madrugada, a pé, pelos subterrâneos de uma capital fria, de campos de araucária que começam lá na Vacaria e são propícios ao aparecimento das criaturas da noite.

Trevisan nunca apareceu em público, avesso ao narcisismo dos artistas, temia que o sucesso o atrapalhasse na análise de suas principais matérias-primas: o ser humano, suas angústias e o lado mais escondido de cada um de nós.

Publicou mais de mil contos e apenas um romance. A Polaquinha. Pequeno também. Recebeu os principais prêmios da língua portuguesa e sempre enviava um representante para recebê-los.

Na famosa caretice curitibana Dalton Trevisan é a prova de que para toda ação há uma reação. E seus contos são uma revelação assustadora para quem está acostumado com o moralismo e a perfeição das redes sociais ou forma uma opinião apressada sobre a capital do Paraná.

 

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