O último conhaque: um encontro com as desventuras do viver
 



O último conhaque: um encontro com as desventuras do viver

por Mauro José de Oliveira

O último conhaque conta a história de um homem comum, bancário, marcado pelo passado, com uma carreira fracassada e trajetória de vida que poderia ser de qualquer pessoa. A narrativa em linguagem simples contrasta com a profundidade do texto e evidencia elementos universais, como a fragilidade emocional, a solidão, a busca pela identidade, o peso do passado e de ciclos que não se fecham, que continuam conduzindo as ações do indivíduo.

A exposição dos acontecimentos é direta e espontânea, sendo bem-sucedida ao estabelecer pontes entre o leitor, o cenário dos acontecimentos e as experiências do protagonista, em especial, suas lembranças. Fica fácil para quem lê, imaginar e criar certa intimidade com a cidade onde se passam os eventos, com os modos de as pessoas se comportarem, assim como com as situações e emoções vividas: "as lágrimas foram saindo, tudo girou à sua volta, recostou-se na parede, fechou os olhos e procurou não pensar em nada".

A história desenvolve-se em uma cidade fictícia no interior do Estado de Minas Gerais. O pequeno município é palco do coronelismo e do patriarcado, práticas que se entrelaçam com a história da principal personagem. A exposição crua de injustiça, desmandos, pobreza e abandono promove a imersão do leitor na narrativa, e favorece entender as personalidades, os diferentes estilos de vida e o ambiente das personagens. Cada capítulo provoca crescente envolvimento de quem os lê e nos faz torcer por algum ato heroico do protagonista. Porém, tudo isso mesclado com o inquietante pressentimento de que a esperança possa ser vazia.

O contexto também nos apresenta muito do ocorrido no Brasil na contemporaneidade, como o deslocamento social para as grandes cidades, em busca de melhores oportunidades de sobrevivência; os dilemas daqueles que partem, a saudade dos que ficam e o desamparo social que a muitos alcança. São retratados também fragmentos do cotidiano anteriores à existência da internet, das redes sociais e da conectividade permanente entre a maioria de nós.

Surgem várias situações que nos surpreendem e fazem refletir sobre como era a existência até recentemente, ao mesmo tempo que outros aspectos de comportamento comuns à natureza humana permanecem. A força das relações de parentesco e de vínculos sociais, hoje tão fragilizada, é exposta com habilidade pelo autor, no encadeamento do passado e do presente. Leitura fluida e intensa, que instiga o leitor a buscar o desenlace da história logo nas primeiras páginas.


Mauro José de Oliveira nasceu em Peçanha e viveu a infância em São Pedro do Suaçuí, no Vale do Rio Doce, Minas Gerais. Reside em Belo Horizonte desde a adolescência. Formado em Administração, é pós-graduado em Agente de Desenvolvimento em Cooperativas, Auditoria Interna e Gestão Empresarial. Atualmente trabalha no serviço público federal.

 

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