Você entra em uma papelaria e compra uma caneta esferográfica. Isso é algo banal e não existe qualquer razão para suspeitar que está levando consigo um produto de alta tecnologia. Algo tão difÃcil de ser produzido que apenas três paÃses no mundo todo detém o pleno conhecimento necessário para fazer todo o processo industrial. Os demais conseguem fabricar apenas adquirindo o componente principal de um destes poucos. Me refiro à esfera que vai na ponta, geralmente feita de aço ou carboneto de tungstênio, uma estrutura cristalina de tipo hexagonal, que se caracteriza pela elevada dureza. Ela tem que ser perfeita, precisa ao extremo, para que ao ser anexada ao tubo da caneta deixe apenas o espaço necessário para que gire em qualquer direção e permita uma distribuição uniforme da tinta sobre o papel. E também, quando dele se afasta, deve bloquear a saÃda da tinta instantaneamente.
Se a esfera fosse muito grande iria obstruir a tinta; se ao contrário fosse pequena demais a tinta vazaria borrando a escrita. Por isso todo o rigor para sua feitura, algo que foi alcançado com sucesso por Alemanha e Japão. A China apenas em 2017 conseguiu também produzir a sua, após muitos anos de trabalho. IncrÃvel é que os chineses já eram naquele ano o maior produtor mundial, com mais de 20 bilhões de unidades por ano em três mil empresas distintas. Só que elas juntas precisavam importar as esferas por um custo altÃssimo, que reduzia a sua margem de lucro. Quanto à tinta usada nas esferográficas, ela é pastosa e feita à base de óleo. Por esse motivo, possui uma textura seca, ao contrário daquelas que eram usadas nas antigas canetas-tinteiro. Ela não borra enquanto se escreve e também não resseca depois.
Conceitualmente, a primeira patente registrada foi em outubro de 1888, por John Loud, nos Estados Unidos. Mas, sua intenção era destinar a invenção para marcar couros, o que terminou não sendo explorado em volume comercial. Foi apenas no final da década de 1930 que um jornalista húngaro naturalizado argentino, de nome László BÃró, de fato adaptou essa ideia e criou a esferográfica. Ele fugira de seu paÃs natal devido à perseguição dos nazistas. Na ocasião já havia conseguido registrar o seu invento em Paris. Estava ainda na Iugoslávia, sem um destino certo, quando foi convencido por um estranho a vir para a América do Sul. Só depois de instalar-se em Buenos Aires ele ficou sabendo que aquele que conheceu e que recomendara sua mudança de continente era o presidente argentino AgustÃn Pedro Justo.
Hoje em dia a marca que mais vende essas canetas no mundo é a BIC, que comercializa algo em torno de 57 delas a cada segundo. Mas, existem outras também icônicas, como Faber-Castell, Pelikan, Pilot e Paper Mate, por exemplo. Esta popularidade do produto se deve em especial por ser uma opção versátil e barata, atendendo à s necessidades de todas as pessoas, desde estudantes até profissionais destacados. Há produtos mais sofisticados, em termos de aparência, além dos mais simples, de plástico transparente. Fora isso, ainda existe uma alternativa intermediária, que são as rollerball. Essas proporcionam uma escrita fluida e bem suave, combinando parte do que oferecem as canetas-tinteiro e parte das vantagens das esferográficas. A sua tinta é lÃquida, no entanto, o que requer bem mais cuidado.
Enfim, escrever é uma dádiva. Apesar de que agora estou quase pondo em risco a minha já anteriormente não muito boa caligrafia, graças à comodidade de digitar tudo em um computador – como estou fazendo nesse momento –, sempre gostei muito disso. Não sei quantas foram as esferográficas que consumi ao longo da vida. O que foi mudando com o tempo foram as palavras selecionadas, os textos e suas intenções. Isso tudo, espero que para melhor.