Italo Calvino: um visionário das letras
 



Italo Calvino: um visionário das letras

por Maria Tereza Jorgens Bertoldi

A obra de Italo Calvino se configura pelas indagações, memórias, experiências, sutilezas, conjeturas que projeta em símbolos abrangentes os detalhes embutidos em cada romance de Se Um Viajante Numa Noite De Inverno. Visto como um dos escritores mais questionadores desta segunda metade do século XX (1923-1985) é sempre uma surpresa renovada, através dos múltiplos caminhos da literatura. A extraordinária fantasia e o requintado estilo que aborda em sua obra, estimula a ficção e a narração inventiva ilustrando com extrema originalidade as aventuras de humor que ultrapassam a lógica formal e provocam inusitadas situações. Italo Calvino e Júlio Cortázar formam um páreo de difícil escolha. Ambos provocam uma atitude de busca permanente contra a rotina literária.

Uma invenção constante e uma postura visionária do mundo contemporâneo. Calvino e Cortázar - um na Itália, outro em Paris desaparecem quase que juntos - deixando um vazio difícil de suprir: o talento imaginário. Italo Calvino revela uma inquietude que lhe é peculiar, sem esquecer, no entanto, o humor refinado que contribui para a leveza de seus textos. Ele transforma a Literatura num passatempo agradável que leva às últimas consequências as possibilidades imaginárias do real. Busca nos territórios limítrofes do pensamento e da ficção abrir novos mundos onde o leitor explora os mistérios e segredos, proporcionando o prazer da leitura inteligente.

Contemplar o trabalho de Calvino é voltar-se para as coisas próximas do cotidiano, presentes em cada objeto que observamos, assistimos, e tudo é digno de ser interrogado e pensado. Em cada história há uma mescla de suspense, conflito, filosofia, erotismo, guerra, realismo fantástico. O autor vê na liberdade com que encara a Literatura, possibilidades na qual toda forma é possível, todo conteúdo pode ser experimentado, todo empreendimento cognitivo pode ser levado adiante. Se Um Viajante Numa Noite De Inverno, publicado pela primeira vez em 1979, Italo Calvino faz do próprio leitor seu personagem principal, cuja maior incumbência é ler romances.

Considerado obra-prima pelos críticos, é uma história fascinante, cheia de mistério e expectativa. As narrativas cessam sem uma sequência. Na ânsia de encontrar um desfecho feliz, o leitor vai descascando a realidade neste imenso labirinto, redescobrindo conexões insuspeitas e verdades soterradas sob o peso das aparências.

“Se Um Viajante Numa Noite De Inverno” por si só, explica a reticência literária do escritor que utiliza os símbolos e os signos para definir o pensamento inconcluso do imaginário que fortalece a sua criatividade. O fato de ter feito a interrupção do enredo o motivo estrutural do livro, não se trata da problemática do “inacabado”, mas sim do “acabado interrompido” pela desconstrução da narrativa. Aí reside toda a força da imaginação que descarta a totalidade da ideia, do possível absoluto, para os limites que propõe para si. Em resumo, ler Calvino é um exercício de prazer, de descoberta, de suspense e, sobretudo, de envolvimento em situações cômicas ou kafkianas.

 

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