Escreva, Forrest, escreva!
 



Escreva, Forrest, escreva!

por Léo Ustárroz

“Deste uma ferramenta nas mãos do Brum, quando ele começou as aulas para aprender a escrever, que tornou seus dias mais leves, esquecendo a doença implacável.”

Recebi esta mensagem da esposa do “meu amigo” — assim ele se auto referia em suas crônicas —, no dia seguinte à sua partida. Deixou o legado que todos desejamos deixar: um exemplo de vida a ser seguido.

Nos conhecíamos por razões profissionais desde muitos anos, e nos tornamos bastante próximos quando, com muita consideração, estímulo e entusiasmo, acompanhou o lançamento de meu primeiro romance, “Sala de Embarque”, 2016. Nesse tempo já enfrentava a doença maldita, aquela de seis letras que cada vez mais está à nossa espreita.

Incentivei-o a desenvolver a escrita nos cursos da Metamorfose. Foi o que fez e, através da escrita, aprofundamos nossa relação, revelando valores compartilhados na esfera pessoal, familiar e de trabalho.

Há pouco mais de ano, em sua homenagem, pesquisei sobre writing therapy, resultando em um pequeno artigo publicado sob o título de “Terapia pela Escrita” (Jornal do Comércio, 06/07/2018; www.artistasgauchos.com.br, 03/06/2018).

Nessa época, com frequência nos encontrávamos para um café, assuntávamos variedades. Um dia tomei a liberdade de perguntar se já tinha pensado em escrever sobre “o tratamento”.

Como sabíamos, escrever nos põe em contato com sentimentos e emoções já experimentadas, segredos que agitam a alma e geram traumas emocionais. É daí que surge o texto literário que, registrado numa folha de papel ou num arquivo digital, nos faz crescer, e também suportar o insuportável.

Meu amigo Brum quis mais: ofereceria sua história a todos que lhe eram caros, mas também à outras pessoas submetidas ao “tratamento”. Criou um blogue, “Depoimentos Aleatórios” ( http://jtbrum.blogspot.com), e escrevia disciplinadamente, postando no blogue e no Face.

Em 07 de agosto passado, publicou seu 31º texto, “Distâncias e Memórias”, provavelmente sem perceber que seria o último.

Se, antes da doença, meu amigo era um atleta, corredor nas ruas e na praia, quase um Forrest Gump — eu brincava —, ao partir, já era um escritor.

Nos deixou uma lição: quando não puder mais correr, escreva.

 

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