O papel curador da arte na sociedade pós-moderna – Parte IV
 



O papel curador da arte na sociedade pós-moderna – Parte IV

por Rafael Figueiredo

“Arte ingrata! E conquanto, em desalento, A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda Busca exteriorizar o pensamento Que em suas fronetais células guarda! ”

O Martírio do Artista – Augusto dos Anjos

Retomo agora uma primeira parte de meu argumento para finalizar este pequeno ensaio sobre o assunto “Poesia”: o papel curador da arte na sociedade pós-moderna. Penso na arte como uma força motora presente desde o princípio dos tempos, quando os homens gravavam suas experiências nas paredes das cavernas. Pois é disso que se trata no fundo: experiência. E com o passar dos anos, essas experiências se enriquecem e se acumulam, dando espaço a um segundo ponto natural: a estética. A partir do momento em que o ser humano deixa de fazer apenas um registro de sua experiência e passa a revivê-la neste processo, cria também a possibilidade de que outros a vivam na maneira de uma percepção individualizada conforme suas referências e seus significados. Deste modo, tenderá a aperfeiçoar seu trabalho, não apenas como vaidade, mas como refinamento na informação estética. E assim se projeta na memória a experiência, a obra e a percepção daquilo que se vê.

A arte é, sobretudo, uma detentora de conhecimento empírico e, ao mesmo tempo, subjetivo, o que lhe agrega uma grande responsabilidade. Ou seja, se fizermos uma arte para o mercado, uma arte de massa, não estaremos cumprindo com a finalidade proposta por esta, e sim somente produzindo objetos de consumo – o que pode ser aceitável, obviamente, mas não é arte. Nesses casos, não há obra, pois o objetivo não está no processo de criação, mas na venda de objeto prático por definição. É importante destacarmos que não estamos falando de qualidade, mas na proposta que se dá ao comprometimento de uma produção artística em direção ao enriquecimento da experiência humana, nosso horizonte neste texto.

Reiterando, estamos sujeitos ao tempo e à sua eficiência, por isto precisamos compreender o fim da existência como um fato absoluto. Dispomos unicamente de um período breve, a soma de instantes e durações contínuas a que chamamos de presente e passado, e, depois, uma projeção de nossos afetos e desejos, intitulada futuro. Em si, nada disso existe propriamente; o que há é o tempo de um momento acrescido de outro, e assim sucessivamente. Tudo o que temos para nos guiar nessa jornada rumo ao inevitável é a experiência, a qual poderá ser valorizada de diversas formas.

Apesar de vivermos um tempo em que a experiência perdeu campo para a produtividade mecanizada, em prol do desenvolvimento de uma sociedade de consumo, ela permanece nossa principal fonte de aprendizado. Basta vermos que mesmo após milênios de evolução continuamos a nos deparar com as questões mais antigas da humanidade. Embora enviando sondas espaciais a fim de descobrir os mistérios do universo, talvez estejamos apenas construindo outras torres babel, pois é nítido que, a despeito de tanta evolução tecnológica, problemas como a fome e a miséria se mantêm reais e, aparentemente, intransponíveis, não pela impossibilidade logística ou por falta de alimento no mundo, mas pelo crescimento descomunal do individualismo moderno. Logo, creio que é preciso dar alguns passos para trás e retornar a questões fundamentais relacionadas à nossa existência coletiva. Para tanto, a arte se torna um ponto fundamental de investigação. Se partirmos da experiência à prática de seu processo de abstração, podemos não exclusivamente rever aspectos essenciais ao enriquecimento dessa experiência, como também projetar esse valor no futuro das próximas gerações.

Para finalizar, afirmo que o processo artístico elabora fatores elementares e propõe grande influência no desenvolvimento coletivo e social em qualquer tempo. E por esses motivos, acredito que todo sujeito merece exercer alguma função poética em sua vida, sendo de vital importância à sua saúde que o faça sem contornos ou critérios preestabelecidos.

 

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