Questões de fidelidade, traição, impossibilidade e erro acompanham o ofício da tradução e os tradutores há séculos. Há quem culpe as línguas por serem como são, há quem culpe os tradutores. Para Ana Elisa Ribeiro, editora, escritora e pesquisadora, a tradução "é um gesto político que torna muitos textos acessíveis a uma população majoritariamente monolíngue".
Para linguistas como Eugênio Coseriu, exige-se da tradução algo que ela não se dispõe a fazer, busca-se "correspondências" (e isto é papel da transposição): a tradução existente é o traduzir, que "engloba também a produção de equivalências (quer dizer, de novos significados e modos de expressão na língua de chegada)". E nesta produção de equivalências, de modos de expressão, o tradutor faz empréstimos, adaptações, esclarecimentos, etc. - utiliza da criatividade e se torna uma espécie de coautor.
A tradução é um ofício que demanda muito do profissional, traduzir uma história inteira para outra língua e ainda manter o "sentido". O processo tradutório envolve inúmeras escolhas, feitas pelo tradutor a partir de sua expertise e a partir da intenção que se busca para o produto final - às vezes mais próximo do texto de partida, às vezes mais longe. No meio editorial, o editor é o responsável pela escolha do tradutor e por encomendar a tradução, que pode levar meses, um dos motivos pelos quais a publicação de um título estrangeiro não é imediata. Ele também direciona o rumo da tradução.
Em palestra para o projeto Rodapé, a tradutora, preparadora e revisora Laura Folgueira conta sobre as diferentes possibilidades para a escolha de um tradutor: contratar um tradutor que já está na casa, que o editor já conhece; optar por um novo tradutor, alguém que o editor gostaria de testar; um tradutor que o editor já conhece de outras traduções e que vai ser bom para o livro em questão. E até mesmo, contratar um tradutor mais renomado, como Caetano Galindo e Paulo Henriques Britto, em vista da possibilidade de reconhecimento/repercussão do livro (se faz um marketing em cima disso, colocando o nome do tradutor na capa, por exemplo). O editor informa ao tradutor o número de laudas, o preço por aquela tradução e o prazo, daí cabe ao tradutor aceitar ou não a proposta.
Em relação a erros de tradução, sim, eles acontecem, pois as traduções, editorias e literárias, são feitas por humanos (ao menos até o momento). Claro que erros de tradução podem refletir a competência e os conhecimentos de tradutor: anglicismos, falsos cognatos, tradução literal que não funciona, etc.
No entanto, o resultado de uma tradução, boa ou ruim também está ligado ao mercado, que é bastante precarizado: "às vezes a baixa remuneração, os prazos apertados ou a falta de revisão podem prejudicar o resultado final", explica Júlia Dantas, escritora, editora e tradutora. Dantas completa que "cabe aos leitores comprarem essa bronca junto às editoras também, pedindo que elas invistam em tradução", para que tradutores tenham melhores condições de trabalho, resultando positivamente nas traduções.