Free Writing: conheça a técnica de escrita livre que ajuda a colocar as ideias no papel
 



Dica de Escrita

Free Writing: conheça a técnica de escrita livre que ajuda a colocar as ideias no papel

Tainá Rios




Sempre que nos deparamos com um bom texto, ficamos imaginando como o autor conseguiu colocar todas aquelas ideias no papel. Em alguns momentos pensamos em mágica, onde um estalar de dedos faz com que as palavras se unam, formando as frases. Mas na prática é bem diferente.

O desenvolvimento da escrita criativa é um processo com várias etapas. E cada escritor tem a sua rotina. É necessário ter um processo de criação que inicia bem antes de escrever, seja no papel ou no computador. A escolha do tema é um dos primeiros itens a serem pensados. Em seguida, vem a pesquisa para embasar os argumentos e reflexões e, por fim, o tamanho do texto. Esse conjunto de processos pode durar alguns dias, às vezes, meses.

Para apoiar os autores, foram criadas técnicas de escrita. Um dos exemplos é a Free Writing, em tradução direta quer dizer "Escrita Livre".

O método ficou conhecido no livro Becoming a Writer (1934), escrito pela autora Dorothea Brande. O objetivo é escrever de maneira contínua, geralmente por um período de 05 a 15 minutos sem levar em conta a ortografia, a gramática e outros tipos de correções. Esse exercício pode ser útil para desbloquear ideias, desenvolver a fluidez da escrita e superar bloqueios criativos e a autocrítica.

A escritora e professora Bruna Tessuto tem experiência com esse método. Apesar de não ter o costume de escrever sobre qualquer assunto de forma aleatória, recorre a essa técnica quando sente a necessidade de escrever diversas ideias. "Acho que é válida quando preciso vomitar em algum lugar antes de escrever mais racionalmente. Quando estamos falando de uma autoficção, por exemplo, muitas vezes precisamos primeiro jogar os fatos e os sentimentos em algum lugar antes de transformar a vida em um texto pensado", explica.

Wlange Keindé, escritora, poetisa brasileira e professora de escrita criativa, aposta que a Free Writing pode auxiliar os iniciantes a desapegarem da perfeição e da idealização de um texto perfeito logo na primeira tentativa. "Eu acho que é uma boa técnica, mas nenhum exercício é bom ou ruim por si só. Eu acho que tudo pode funcionar para algumas pessoas e para outras, não. Se funciona para você, ótimo. Caso contrário, não fique tentando se prender, busque outro método", afirma.

A Free Writing na prática

Essa técnica também é conhecida como "fluxo de escrita inconsciente". Já foi comparada à meditação consciente, pois faz os escritores se atentarem apenas aos pensamentos e palavras para desenvolver o tão desejado texto.

O objetivo é deixar fluir todas as ideias que surgem sobre um determinado assunto. O primeiro passo é não ter receio do que será escrito, ou seja, para colocar esse método em prática você precisa escrever sem censura. Depois que escolheu o tema, pegue um papel e caneta e anote todas as frases que surgirem na sua mente em sequência. Faça isso durante 15 minutos. À medida que o texto vai surgindo com frases e até diálogos, você pode tirar um tempo para ler e conferir o resultado. Repita o exercício quantas vezes for necessário. O importante é deixar a sua criatividade fluir!

Outras técnicas para criação de histórias

Caso a Free Writing não seja a melhor técnica para você desenvolver a sua história, existem diversos métodos que podem auxiliar nessa trajetória. Para a professora Bruna Tessuto, as técnicas atuam como guia para o autor não se perder entre os acontecimentos. "O texto é vivo quando passa a ser escrito", justifica.

Para construir as personagens, ela busca inspiração em duas técnicas: Análise Actante e Memória Emotiva. A primeira é mais conhecida no teatro e consciente em fazer um panorama das características físicas, sociais e psicológicas das pessoas e até imaginar como agiriam nos relacionamentos. Também analisa como o personagem se vê, o que deseja, o que faz e de que jeito faz para conseguir, como é visto, o que pensam sobre ele, quais as dificuldades que enfrenta. O segundo método foi criado pelo Stanislávski e propõe pensar nos sentimentos que temos parecidos com os personagens e emprestar o nosso cerne para ele. "As técnicas dos personagens auxiliam para que eles se tornem mais visíveis e compreensíveis para mim. Também faz com que eu pense em características e situações sobre eles que realmente vão entrar na narrativa", explica.

E para escrever a história, utiliza a linha do tempo em tópicos. Começa colocando todos os acontecimentos um embaixo do outro na ordem em que vão acontecer. Depois, analisa o resultado e preenche as lacunas que podem aparecer. Só depois de deixar essa etapa bem montada, ela começa a escrita do texto.

A poetisa Wlange Keindé aposta na técnica de sonoridade das palavras. A sua busca é por expressões que ajudem a construir um sentimento no leitor. Ela explica que gosta de enfatizar detalhes da história, como por exemplo, a brisa que balança as folhas de uma árvore ou um sentimento específico de uma personagem. Após escrever seus textos, ela lê em voz alta para ouvir se as frases estão soando bem. "Eu tento criar algumas aliterações ou algumas assonâncias para que aquele texto tenha uma euforia na hora da leitura", afirma.

Outra técnica utilizada por Wlange e aplicada nas aulas é o planejamento das cenas. Ela sempre planeja as atitudes das personagens, os possíveis diálogos e as viradas de cenas antes de iniciar a narrativa.

Qual a melhor técnica para os autores iniciantes?

Após a leitura desse texto, ficou claro que um bom texto não se escreve apenas com vontade. É necessário estudar técnicas e métodos que se encaixem no seu perfil como escritor e, claro, treinar bastante para escrever as suas histórias com confiança.

Para Bruna, ouvir críticas e sugestões dos textos também é uma boa dica. Pode ser difícil no primeiro momento, porque envolve ego e a relação afetiva com o que estamos escrevendo, mas é necessário, e menos sofrido termos, o entendimento do quanto isso é importante. "O olhar do outro só engrandece o que produzimos", afirma Bruna Tessuto.

Já Wlange aposta na escrita. Para ela, o mais importante é começar com que se tem, mesmo que seja uma ideia de livro. E ser resiliente e paciente para não desistir da trajetória de publicar livros. Por fim, a poetisa indica continuar estudando por meio de obras literárias de outros autores ou cursos e oficinas de escrita criativa. "Ler obras pode te enriquecer muito, pode te ajudar a entender o que o escritor fez ali e como você também pode alcançar esses mesmos efeitos na sua história", afirma Wlange Keindé.

 

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