A organização pessoal para escrita é uma etapa fundamental no processo de desenvolvimento de um texto ou de um livro. As ideias não "caem" da cabeça do escritor direto para o papel, é preciso encontrar (ou criar) o caminho para transformar uma ideia em algo concreto.
Replicar estratégias que funcionam para outros autores pode ser um bom primeiro passo, mas cuidado: uma mãe-solo, com dois empregos provavelmente não conseguirá copiar a mesma rotina do Stephen King. É preciso se conhecer, estabelecer seu ponto de partida e aonde deseja chegar para encontrar, não só o seu caminho, mas a velocidade da marcha.
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Para quem se encontra perdido, listamos seis dicas que podem te auxiliar a encontrar seu passo.
1. Quanto tempo você tem para escrever?
Identifique quanto tempo você tem para se dedicar à escrita. Seja honesto. Não se trata de estabelecer quantas horas por dia você gostaria ou quantas acha que seria o ideal escrever, mas quantas de fato você tem. Evite comparações. São trinta minutos diários? Uma hora a cada dois dias? Só consegue escrever aos finais de semana? Aceite seu tempo disponível e o respeite.
Evite distrações, nesse período a escrita é sua prioridade. Converse com as pessoas do seu convívio e estabeleça limites. Se precisar, tranque a porta do quarto. Quando necessário, faça pausas. Como na música, a ausência de som também faz parte da letra/canção.
2. Crie seu santuário
Tenha um local para escrever, de preferência, longe das distrações cotidianas. Pode ser no escritório, na mesa da cozinha ou em um caderno que pula da sua mochila enquanto você está no caminho para faculdade.
Transforme o espaço para escrita no seu santuário. Deixe caneta, papel, rabiscos e lembretes a mão. Quanto mais mergulhado no ambiente de trabalho, menores as chances do mundo à sua volta te raptar. Ser multitarefas pode ser assertivo em outros ambientes, não aqui.
3. Exercite a escrita
No mundo ideal, você gostaria de ter um escritório com vista para o mar, na prática, você só tem o bloco de notas do celular. Use-o. O possível feito é melhor do que o perfeito inexistente. Concentre suas anotações em um único local, quando você perceber terá mais material do que imaginava.
Tenha em mente que a escrita é exercício, um parágrafo não tão bom hoje, depois de maturado, pode vir a ser o trecho mais importante do seu livro. Seja paciente-ativo, confie no processo.
4. Estabeleça rituais
Depois de ter determinado o tempo, o local e a periodicidade, é hora de criar rituais para o antes, o durante e o depois da escrita. Entre no "espírito escritor", coloque café na sua caneca de estimação, silencie o celular, bote para tocar suas músicas preferidas, inspire-se lendo. Identifique os métodos que te fazem produzir mais. A maioria dos escritores começa a jornada de trabalho revisando textos do dia anterior, para só depois escrever algo novo. Talvez funcione para você.
Ao final do "expediente", viva. O mundo e as interações são as melhores matérias-primas para enriquecer suas histórias. Lembre-se: escritores são, também, grandes observadores do cotidiano.
5. Comprometa-se com o mundo
Estabeleça objetivos concretos, coloque prazos, inscreva-se em concursos e, o mais importante, divulgue-os para pessoas que você aprecia. O ser humano tende a ser mais responsável quando se compromete com terceiros do que consigo, não é à toa que malhar com uma amiga gera mais resultados do que ir à academia sozinho. Use a (possível) vergonha de não publicar seu livro até o final do ano, como prometido aos seus leitores, como catalisador das suas ações.
Ter metas é como soltar um rottweiler faminto no seu caminho. Se você tem medo de cachorro, abra vantagem e comece a trabalhar bem antes do prazo. Agora, se você gosta de aventura, a madrugada anterior a entrega do texto provavelmente será agitada.
6. Avalie-se constantemente
Você escaneou toda sua rotina, criou um espaço bacana para escrever, acendeu seus incensos, se comprometeu com a editora, mas algo, simplesmente, não funcionou. O conto, que era para ser entregue dia dez, está emperrado entre as suas orelhas. Aceite a derrota momentânea. Pesquise como outros escritores trabalham, use-os como inspiração e evite as pedras onde eles tropeçaram.
Revise sua rotina, identifique o que deu certo e onde a coisa degringolou. Avalie, reavalie, teste e, claro, não desista. Mantenha o foco no objetivo final, recalcule a rota sempre que necessário e melhore-se ao longo do processo.
O que serve para você pode parecer caótico para outros. Não há certo ou errado.
Lembre-se: escrever é um ato de solitude, momento de se sentir confortável na sua presença. Criar uma rotina traz segurança e, com ela a confiança e liberdade de ser você mesmo, um escritor único.