Um texto é como uma obra de arte, precisa ter características próprias. Por mais simples que pareça, pegar todas as anotações do bloquinho e colocar em um papel não as transforma em texto pronto. Tem que escrever as frases, juntá-las em parágrafos e esperar que façam sentido. Realizar pesquisa em fontes confiáveis também é um item essencial.
Para o cronista e professor Rubem Penz, a transformação das ideias em textos começa bem antes da escrita. Somos tocados ao andar na rua, conversando com as pessoas e escutando um podcast. Ele se define como um escritor crônico. "Essa definição é do Affonso Romano Sant`Anna. Doente do tempo, do cotidiano e da história. E o que é ser doente dentro do cotidiano e da história? É ter uma eterna febre. Tudo nos impressiona", explica.
De acordo com essa definição, os autores que optam pela crônica conto ou crônica resenha estão sempre com a antena ligada, ou seja, prestando atenção em tudo que acontece à sua volta, sempre imaginando a próxima criação textual. Mas nem só de imaginação vive um texto. Rubem afirma que dentro da crônica vai ter algum dado que seja parte do argumento e precisa ser verificado. "A crônica vai ser lida pelo gari, pelo pediatra, por um psicanalista e por um engenheiro. Sempre que a gente puder deve se amparar em dados confiáveis", afirma. E essa pesquisa pode ser simples: basta ler trechos de alguns especialistas no assunto escolhido por você para confirmar a sua argumentação.
Quem está sempre com a anteninha ligada é o jornalista e escritor João Campos Lima. Apaixonado por futebol e pelas palavras, ele uniu as duas paixões e começou a escrever sobre os jogos do Grêmio na Série B do Campeonato Brasileiro em 2022. "Foi uma boa oportunidade para colocar em prática a escrita mais frequente com o compromisso de escrever antes de cada uma das 38 rodadas que o time iria disputar naquele campeonato. Então, de abril a novembro de 2022, produzi 38 textos, que inicialmente foram publicados na minha conta no Medium", relembra.
Ao final do campeonato, a sua mãe reuniu todos os textos em uma publicação inédita e o presenteou. "Nos primeiros meses de 2023, comecei a projetar a produção dos livros para venda em parceria com a editora All Type", afirma João. Todos os livros foram vendidos em alguns meses.
Mas para escrever suas crônicas, João também realizava algumas pesquisas. Ele concorda que buscar informações de fontes confiáveis auxilia a criar o próprio ponto de vista. "Sempre quando exemplifico um acontecimento ou dados estatísticos em meus textos, faço uma pesquisa a respeito do que estou escrevendo", afirma. E reforça que ler outros autores ajuda a enriquecer o conhecimento e fomentar a criatividade.
Rubem também aposta na criatividade como item necessário para um bom texto. "É usar a criatividade do jeito que ela se manifesta. Seja em poesia, em música, em crônica, em texto. Quanto mais conteúdo eu tenho, quanto mais curioso eu sou, quanto mais leituras diferentes, gostos diferentes, coisas diferentes me chamam a atenção e eu, de alguma forma armazenar, quanto mais conhecimento eu tenho, mais eu posso ser criativo", afirma. E ainda acrescenta mais dois itens: o conteúdo e a capacidade de associação.
Cinthia Dalla Valle é escritora e ghost writer. Ela trabalha com publicações que falam sobre método de trabalho específico, também chamados de livro de método ou expertise. "Esse tipo de livro gera autoridade para o autor, facilitando o caminho para ele se tornar referência na sua área de atuação", afirma. Também escreve contos e crônicas e tem dois livros publicados.
Ao transformar as ideias em palavras, Cinthia sente uma libertação. "Todos deveriam experimentar a escrita com um olhar mais leve, com menos pesos e mais possibilidades".
A jornada da escrita nos livros técnicos
Chegamos até aqui entendendo que criatividade, leituras e olhar atento aos acontecimentos ao nosso redor são itens necessários para tirar as ideias da imaginação e colocá-las no papel. E será que essas técnicas também são utilizadas em todos os livros? As diferenças estão no gênero e na metodologia de trabalho.
Nos livros técnicos, que são apostilas, manuais, gramáticas e livros didáticos, o gênero é sempre de não-ficção. Cinthia Dalla Valle, explica que na literatura, as publicações envolvem a criação de histórias, cenas e personagens e nos livros técnicos, os elementos principais são a pesquisa e o conhecimento.
Na escrita técnica os conteúdos são enviados pelo autor e sempre que possível, os ghost writers podem colocar um toque especial. No caso de Cinthia, ela gosta de ler assuntos relacionados ao tema da publicação ou que foram referência para seus clientes. "É fundamental saber o que o autor já gostou de ler em relação ao tema e livros de literatura também", afirma.
Entre os desafios está a organização de todo o conteúdo em apenas um livro. Há casos em que ela sugere uma série de publicações complementares. "Além de publicar, em geral, os autores de livros técnicos querem vender, quem sabe até entrar na lista dos mais vendidos da Publish News. E mais do que isso, querem e merecem ser lidos, por isso, o ghost writer precisa ajudar a passar a paixão do autor para as páginas do livro. Porque, no final das contas, é ela que conecta", explica.
Essa conexão com os leitores faz o texto ser bom. Ao prender a atenção do público, a leitura gera transformações nas pessoas. "O ideal é que seja construído como se fossem convites costurados um ao outro, chamando o leitor para continuar ali até o fim. Deve ter pelo menos um elemento universal como guarda-chuva dos elementos específicos. No caso de um livro de método ou de expertise, por exemplo, o elemento universal poderia ser um problema/dor que a persona do autor vive, enquanto que os elementos específicos estariam dentro do método apresentado", explica a ghost writer Cinthia.
Por fim, qual seria a melhor técnica para transformar as ideias em textos? Não existe apenas uma, infelizmente. Essa transformação acontece com o conjunto de fatores citados neste texto. Deixe a sua imaginação fluir e faça pesquisa nas mais variadas fontes que encontrar. Quando perceber, estará tocando as pessoas com as suas palavras.