Escrevendo crônicas do cotidiano
 



Dica de Escrita

Escrevendo crônicas do cotidiano

Tainá Rios


Entre os diversos estilos possíveis de crônica, a crônica de cotidiano talvez seja a mais popular. A narração de acontecimentos e temas do dia a dia com um toque pessoal e opinativo do escritor permite que o texto construa uma conversa com o leitor e abra espaço para a imaginação.

Sempre que falamos desse gênero de crônica, pensamos nas crônicas publicadas nos jornais diários que falam sobre política, futebol e algumas reflexões sobre a vida em sociedade. Mas atualmente podemos encontrar esses textos também em blogs, newsletter e livros.



A escritora Anabela Ferrarini, por exemplo, está lançando o livro de crônicas "A crônica poesia da vida", Editora Metamorfose, que reúne textos que lançam um olhar mais poético ao nosso cotidiano. Para a autora, o miúdo da vida é como uma matéria-prima para a escrita. E ela se inspira em fatos bem cotidianos, como uma conversa que ouviu na fila do supermercado, uma notícia do jornal e um acontecimento inusitado ou engraçado.

"A inspiração é tão urgente, que é preciso escrever na mesma hora, sob o risco de que aquela ideia fique rodopiando na minha cabeça até finalmente ir para o papel. Em outras, a ideia é semente, e precisa de tempo para brotar, se desenvolver, encontrar o tom e o caminho", afirma Anabela.

Jordana Thadei, que também lançou seu primeiro livro de crônicas pela Editora Metamorfose, também vê os acontecimentos ao seu redor como um item motivador para os seus textos. Acredita que o gosto de todos da família pela crônica a fizeram gostar do gênero e começar a escrever.

Desde que começou a estudar técnicas de escrita criativa, ela está mais atenta aos fatos que podem render uma boa crônica. "Desenvolvi a prática de registrar o fato ou o tema e desenvolver uma espécie de sinopse, meio caótica mesmo, com o que pretendo desenvolver em uma crônica", explica Jordana.

O primeiro livro recebeu o nome de "A casa das águas e outras crônicas". Segundo a própria, a temática dos textos é bem variada. As crônicas falam da infância mineira no interior até a vida da mulher madura. "O leitor pode ser surpreendido a cada texto. Pode se emocionar e, certamente, vai se divertir e rir".

As técnicas textuais para construir uma crônica do cotidiano

Apesar dos assuntos que inspiram as suas crônicas, as duas autoras buscam técnicas e têm rituais para escrever os próprios textos. As duas afirmam que deixam a escrita fluir, mas que sempre revisam e buscam informações antes de encerrar as crônicas.

Anabela inicia seu ritual de escrita com café quente, em uma xícara grande, em um ambiente silencioso. Sempre opta por escrever no computador. Raramente utiliza papel e caneta. Com muita atenção, ela deixa a inspiração fluir. "Posso dizer que busco informações sobre aquilo que vou escrever. Visualizo o texto mentalmente, imaginando seu tamanho, o número de parágrafos, como farei para criar um vínculo com o leitor. E decido de que tipo ela será, narrativa, reflexiva, humorística. No final, minha decisão nem sempre vence. Posso começar de um jeito e terminar de outro", explica.

Já Jordana, acredita que deixar o texto parado por alguns dias é a melhor opção. "Depois de finalizada uma primeira versão, fico uns dias sem pegar nela. Às vezes, uma semana inteira", lembra.

As anotações das aulas sobre estilos literários também ajudam a autora nesse processo, principalmente, no momento da revisão. "Vez ou outra acontece de salvar na pasta de conto, a partir da conclusão de que está mais pra conto do que pra crônica, já que as crônicas narrativas, crônicas de memória ou crônica-conto são muito evidentes, na minha escrita. E aí, os textos ficam lá na quarentena dos contos, até eu poder dar o devido tratamento de conto a eles", afirma.

Dicas para escrita de crônicas do cotidiano

As duas escritoras apostam que o olhar atento aos acontecimentos é a principal dica. São nos detalhes da vida cotidiana que podemos encontrar temas para as crônicas. Pode ser uma frase impactante ou uma cena que chamou a atenção dentro de um ônibus lotado.

Outra dica importante é a comunicação. A crônica do cotidiano é como uma ferramenta que compartilha fatos e histórias da vida. Mas se o autor não sabe conversar com os leitores, ele não terá a atenção certa até o final do texto. Para que isso não aconteça, é indicado o uso de diários para desenvolver o hábito de registrar as histórias. "É necessário ter em mente que escrevemos para um público heterogêneo, então, é preciso saber nos comunicarmos com clareza", explica Anabela.

Pesquisar sobre o tema antes de escrever também é sempre recomendado. Para Jordana, a leitura de notícias diárias é indicada para quem deseja uma crônica mais reflexiva.

Mas a pesquisa pode ser feita na fila do cinema ou do supermercado. Conversar com as pessoas que presenciaram alguma cena ajuda a construir argumentos e reflexões para a crônica.

 

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