- Por favor, faça com que ela melhore - sussurrava Luiza, suplicando aos céus.
São sete horas da noite, a sala do pronto-socorro está cheia, dois médicos e três enfermeiros estão ao redor da maca empenhados em salvar a mãe de Luiza. Seu padrasto solta o choro, que ela tanto segura. Aconteceu sem anúncio, a febre, as dores, os gritos.
- Preciso falar com vocês - diz o médico, encaminhando-os para o corredor. - Se preparem para o pior.
As lágrimas caem desimpedidas pelo rosto de Luiza, que volta para o quarto e continua rezando baixo. Andando de um lado para o outro, pensa em toda a sua vida ao lado da mãe. Lembra das brigas e das risadas constantes, das dificuldades superadas e das existentes. Devíamos ter viajado mais, mas ela nunca pôde. O trabalho cobrou muito. Trabalhou tanto para não aproveitar nada. A pergunta incessante era: o que será de mim?
- Ela será encaminhada para a UTI - diz o médico.
A internação na UTI levou oito dias. Oito dias de visitas ininterruptas. Olhos grudados nela. Sentia a pele grossa, com o toque das mãos juntas. Os segundos importavam, as dores nas costas não. Hoje, recebeu alta da UTI. Ela está estável e acabou de chegar no quarto. Luiza está radiante, já a mãe anda de um lado para o outro, como se estivesse aprisionada há tempos. Em um só minuto agradece e reclama. Nada de diferente.
- Luiza, me dá esse celular, preciso falar com as funcionárias.
Luiza levanta da cadeira designada ao acompanhante e entrega o celular.
- Mãe, depois disso tudo, deveria levar a vida de forma mais leve. Evitar se estressar. Isso tudo pode ser uma oportunidade de mudança.
- Cala a boca! Agora não é hora disso.
O que será de mim?
Júlia Telles é mineira, nascida em 1996, na cidade de Pouso Alegre/MG. Graduou-se pelo Centro Universitário de Belo Horizonte como Arquiteta e Urbanista, profissão que exerce atualmente. Concluiu o Curso Online de Formação de Escritores e segue seus estudos relacionados à escrita criativa. Seus textos são compartilhados na página do Instagram @juliatelles.t.