Amor sem ser clichê na literatura
 



Dicas

Amor sem ser clichê na literatura

Neusa Maria Carlan Sá


Ele está presente em quase todos os tipos de narrativas. Atua no universo real e fictício. Há quem diga que é a razão de ser de todas as coisas. E há quem acredite que o seu tempo já passou. Especulações à parte, a verdade é que o amor tem presença garantida em grande parte das narrativas literárias sejam essas, romances, contos, poesias, novelas ou fábulas.

O amor - declarado por Paulo de Tarso no século I e revelado sob a forma de poema em Coríntios I, Cap. 13 - Novo Testamento - é também o amor transformado em balada pop por Renato Russo na canção Monte Castelo, no século XX. Ou seja, vemos o amor em verso e prosa atravessar os séculos e reinventar-se. Mas afinal, qual a importância do amor na cena literária do século XXI? Ainda há espaço para esse tema sem ser clichê?



Para nos ajudar a compreender um pouco mais sobre este assunto convidamos duas autoras da Editora Metamorfose para compartilhar algumas ideias e dicas potentes sobre o amor na cena literária: Adriana Mondadori - autora dos livros Vulcana e Clitoria; e Sandra Radin - autora dos livros A velha sabia e eu: atmosfera feminina, Acordes sexuais da maturidade, entre outros.

Para Adriana Mondadori, o amor - com seus enigmas e infinidades de temas - é, sim, presença essencial em muitas tramas. Destaca: "Histórias de amor são emblemáticas, promovem a diversidade e a inclusão. Qualquer forma de experiência amorosa é legítima, não importa o que a sociedade fale ou pense".

Portanto, ter acesso a um repertório literário que fala sobre o amor é também uma forma de produção de sentido. As formas de viver e sentir o amor representadas através de cada personagem tornam-se referência na construção das nossas formas de viver e sentir o amor na nossa trama real. E a esse respeito, diz Adriana: "Entre as muitas coisas que as narrativas literárias nos proporcionam está a possibilidade de obter uma compreensão mais ampla do amor e das complexidades deste sentimento". Assim, transcender a versão clichê do amor é também um compromisso do escritor que se dedica a esse tema. E a esse respeito a escritora Sandra Radin compartilha algumas dicas: ter muito cuidado com o emprego de algumas palavras; fazer uma reflexão crítica sobre amor, atração e paixão sob a perspectiva de quem é o público-alvo; quebrar paradigmas e admitir que o amor eterno é utopia. Segundo Sandra: "A linha que separa o romântico do piegas é tênue e depende da ótica pessoal e do estilo narrativo do escritor".

Para Adriana Mondadori, as narrativas de amor precisam ter casais que desafiam as convenções sociais. Casais improváveis, amores intergeracionais, romances intensos em cenários turbulentos. Histórias que quebram barreiras de gênero e sexualidade. Personagens cativantes, enredos envolventes e diálogos autênticos, são indispensáveis. Comenta: "Histórias de amor fascinantes não precisam ter Paris como pano de fundo. Podem acontecer na Lomba do Pinheiro, no centro da cidade, nos corredores da universidade, na linha circular de ônibus urbano". Ou seja, é necessário desapegar-se do amor à primeira vista para dar espaço à química que acontece no cotidiano das relações.

Outra dica importante é incluir na narrativa as miudezas da relação. Refere Adriana: "Colocar a história nos amplos vazios dos estreitos lugares da casa, na garrafa térmica cheia de chá testemunhando diálogos, na louça por secar, na cama desarrumada, no jeito de passar a manteiga no pão, no arrastar dos móveis da sala para dançar músicas dos anos 80". Enfim, o amor mora nos detalhes e nas sutilezas. Portanto, use e abuse diante desta oportunidade na trama.

E para quem está ensaiando escrever sobre o amor e deseja beber na fonte de estórias inspiradoras, nossas parceiras sugerem alguns de seus clássicos prediletos: "Doutor Jivago", de Boris Pasternak - romance que narra a estória de um homem dividido entre o amor de duas mulheres, "Amor nos tempos de cólera" - a história trata de um triângulo amoroso, de um amor improvável mesclado por pressões sociais e culturais, onde o autor - Gabriel Garcia Márquez - se inspira na sua própria vivência amorosa e na de seus pais para criar esta obra. E na literatura contemporânea, destacam: "Paixão Simples" de Annie Ernaux, "O amante japonês", de Isabel Allende, e "Este é um livro sobre o amor", de Paula Gicovate.

E a dica final fica por conta do conhecimento prévio que envolve o tema central da narrativa. Neste caso, dedique tempo para refletir sobre o que significa amor para você: viva, estude, pesquise, leia sobre o amor. E, por fim, escreva sobre ele e suas nuances através da sua produção literária.

Se você é também um entusiasta deste tema ou, após ler este artigo, sentiu-se atraído pelo amor na cena literária, nossas colaboradoras compartilham algumas das suas reflexões. Revela Sandra: "O amor é um sentimento que permeia todas as nossas relações. O amor pode ser vivido de diferentes formas: amor fraternal, amor filial, amor romântico, amor afetivo, amor obsessivo e amor universal". E conclui Adriana: "O amor chega muito antes da convivência. Amor é escolha. E quando as fantasias, as vontades se acoplam no inconsciente do outro, os projetos e os ideais caminham para um deslumbramento em conjunto. Daí, a agente ama. Doido isso, não é?"

E para você qual o tipo de amor que lhe desafia a escrever?

 

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