Contos
Uma pedra de gelo
Ângela Schnoor
caiu na grama ao ser posta em um copo. Tremeu de medo, imaginando quebrar-se ou morrer.
Era fria e dura, mas assim se sentia segura e Ãntegra. Como as de sua espécie, não costumava atrair contatos e não se importava pois, desde o inÃcio da vida, se lembrava de estar separada das demais em compartimento seguro e bem organizado. Era assim que lembrava de sua famÃlia e local de origem.
Quando caiu sobre a relva verde, rolou para um canto e não parecia importar a ninguém se sobreviveria.
Ao começar a derreter, foi perdendo a forma e a rigidez, mas tentou manter a pose.
O filete que saÃa de si mesma em decomposição foi se embrenhando nos caminhos até que encontrou algumas formas semelhantes que o aceitavam sem questionar, alem de unir-se a ele de um modo insuspeitado. Parecia que eram iguais e se fundiam com alegria e entrega.
Mais incrÃvel foi quando se juntaram a uma fonte que, para a pedra de gelo, pareceu deus ou uma grande mãe. Era uma quantidade grande de seres que, acolhidos neste volumoso, corriam pelo gramado como uma única espécie, sem limites, tomados por imensa energia. Ao longe ela ouvia crianças gritando: "Olha só, aqui tem um rio!"
Angela Schnoor (Rio de Janeiro/RJ) é psicóloga e publicou os primeiros minitextos em 2001, nos "300 toques" do fanzine Falaê. É autora do livro Frestas (Editora Metamorfose) e participou das coletâneas Contos de Algibeira (Editora Casa Verde) e Entrelinhas (Editora Andross). Tem contos e minicontos publicados em revistas impressas e digitais.
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