O despertador toca nervoso no quarto de Thalita. Ela acorda assustada e com olhos sonolentos, veste o uniforme, pega sua mochila e sai correndo.
- Ah, elevador, por que você nunca está aqui? Morar numa cobertura numa hora dessas!
A jovem desce as escadas e, em poucos minutos, chega à portaria. Entra suada no primeiro táxi que vê.
Enquanto passa pela orla de Copacabana, observa suas amigas jogando beach tennis. Elas não ficaram em recuperação.
- Maldita, Má, temática!
O taxista dá um sorriso e segue pela avenida engarrafada.
- Sabe, menina, o único lugar que eu não me importo de pegar trânsito é aqui. Esse céu azul e essa brisa dão um gás para meu dia e eu nem ligo para quem está na minha frente.
- Pois é. No meu caminho tem uma pedra. Uma pedra chamada Trigonometria, com senos e cossenos para me atormentar.
- Ah, mas você tem que ser capaz de ver o verão.
Ela tenta. Inspira e expira o ar lentamente, tentando se acalmar, mas não consegue. Queria estar na praia com a sensação boa de dever cumprido. Como alguém conseguia ser tão cruel a ponto de não dar dois décimos para um aluno passar de ano? Qual o problema de passar a tangente?
Thalita era das letras, não concebia ver a estrada sob um novo ângulo.
Fez uma boa prova, voltou correndo para a praia e abraçou Drummond.
Denise Henriques é carioca, licenciada em Letras. É autora de Azevinho, livro de crônicas e de Casa de Minas, livro infantil. Participou de várias antologias poéticas. É amante dos textos curtos e potentes. Gosta de pessoas que trabalham para construir uma sociedade mais justa e fraterna. Participa do
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