Caro professor, antes de qualquer atitude precipitada ou resignada, leia atentamente estas instruções.
A educação foi projetada para um funcionamento eficiente e seguro. No entanto, certas condições de uso podem causar experiências diversas e improváveis.
Um professor deve saber mais que seus alunos. Se esta frase lhe parece muito rigorosa, não desanime. Algumas instruções podem nos ajudar a reconhecer um bom professor de um mau professor ou mesmo de nos tornarmos aquele que melhor nos aprazer. O importante, já aprovado pelos mais renomados cientistas, é fazer constantemente aquilo que fazemos para assim adquirirmos a excelência, seja ela positiva ou negativa. Os alunos comparecem às aulas com as cabeças vazias, assim o pensamos, mas alguns trazem algum preenchimento oculto e inexplicável ou material palpável. Recomenda-se ignorar isto ou aquilo e se concentrar na obviedade do saber, ou seja, que ele não é transmissível através de palavras, mas de sensações, ondas de energia, gestos, incontroláveis no manuseio para a maioria dos mortais. Resta-nos então nos concentrarmos sobre as banalidades, ou seja, tudo que permeia e formata: métodos ou floreios.
Cada um de nós, professores, ao que se sabe, imaginou um dia saber mais do que seus semelhantes. Alguém nos terá dito (cedo ou tarde) que após ter repetido tantas coisas, tantas vezes, isso será inevitável. Se após um rápido exame, vê-se que esta suposição não é verdadeira, não há razão de desanimar, pois o título de professor, mestre ou doutor, por si só, pode dar início a um processo incontrolável de autoapreciação e megalomania dada exclusivamente à espécie humana. Isto pode ser altamente destrutível em alguns casos, mas engrandecedor em outros. Ainda que aparentemente controverso, este sentimento só contribuiu para a melhoria da raça, uma vez que alguns decidiram poder ensinar a outros o que bem lhes incumbia. Diz-se que assim atingimos altos graus de sofisticação intelectual e artística, sem nunca termos realmente compreendido qual seria a fórmula, e em qual momento a mesma funcionaria ou tampouco com quem.
Aprendizes assim o aceitaram e, como uma regra inalienável, decidiram aprender e repetir os gestos e palavras apreendidos. Caso contrário, pouco se passaria de uma geração a outra e pouco nos orgulharíamos de tantas palavras acumuladas em livros e compêndios. É preciso muita paciência nessa fase. A transmissão é tumultuada e passível de muitas incompreensões. Atenção, ódios mortais ou amores enlouquecidos podem surgir. Muitas repetições serão necessárias até que um bom resultado venha à tona. Pouco foi explicado sobre o mecanismo, mas sabe-se que tudo tem lá seu fundamento. Alguns dizem até que foram felizes nas salas de aula e nunca a deixaram se transformando após muitos anos de sensações e energias em professores, eles mesmos. Outros, só se lembram das humilhações, das comparações, das exclusões, e tão traumatizados tornaram-se, que não gostam nem de passar pela frente de todo e qualquer estabelecimento educacional. Nunca se esqueça: uma certa dose de adversidade será encontrada.
Ainda que lhe pareçam vagas, siga essas instruções, elas não desobedecem aos anais e pregam que um primeiro passo será sempre o de observar o tempo e não desacreditar que ele é imutável, perene. Tenha certeza que o não saber não parece almejável e a espécie o sabe.
Caro professor, não convém esquecer: alguns sempre acabam se arriscando e achando algo, - após uma noite de lua cheia ou nos primeiros raios de sol de uma manhã - e isso, independentemente de toda e qualquer boa ou má vontade alheia.
Flávia Mara de Macedo é professora de língua e literatura francesa e tradutora. É graduada em letras (UFSC), mestre e doutora em literatura comparada (Sorbonne). Participa do
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