No enunciado abaixo, há uma discordância de tempo entre os verbos das duas orações:
“É importante que nós continuássemos com os mesmos cuidados”.
Vejamos em que consiste essa discordância, isto é, essa falta de correlação verbal. Para isso, prestemos atenção aos tempos verbais:
Na primeira oração, o verbo (É) está no presente do indicativo; na segunda, o verbo (continuássemos) está no pretérito imperfeito do subjuntivo.
A combinação presente do indicativo + pretérito imperfeito do subjuntivo não constitui uma correlação verbal adequada. Para estabelecer uma correlação harmoniosa há duas possibilidades:
1ª) Presente do indicativo + presente do subjuntivo:
É importante que continuemos com os mesmos cuidados.
2ª) Futuro do pretérito do indicativo + pretérito imperfeito do subjuntivo:
Seria importante que continuássemos com os mesmos cuidados.
A diferença entre as duas possibilidades está no sentido a ser enfatizado. Na primeira, com os verbos no presente (do indicativo e do subjuntivo, respectivamente) enfatiza-se a real necessidade de continuar com os mesmos cuidados; na segunda, com os verbos no futuro do pretérito e pretérito imperfeito do subjuntivo, respectivamente, o enunciado encerra a ideia de uma situação desejável.
A falta de correlação ou, em outras palavras, de harmonia ou mesmo de coerência entre formas verbais, é frequente em períodos compostos por subordinação em que se tem sempre uma oração principal (com verbo em um tempo do modo indicativo) e uma oração subordinada adverbial (com o verbo em um tempo do modo subjuntivo). A dificuldade de manter o aspecto harmonioso entre as formas verbais decorre da grande variedade de tempos e formas verbais disponíveis na nossa língua que, além dos tempos verbais simples, dispõe de tempos compostos.
De modo geral, a gramática que é internalizada pela exposição à língua, ouvindo, falando e, principalmente, lendo bons textos, dá conta das principais correlações. Mas há orientações que podem auxiliar em caso de dúvidas.
Abaixo, destacamos algumas correlações verbais:
1. Correlações entre tempos verbais simples
Presente do indicativo + presente do subjuntivo:
O governo espera que cada um faça sua parte.
Futuro do subjuntivo + futuro do presente do indicativo:
Quando você trouxer o projeto, discutiremos os detalhes.
Se você fizer um bom trabalho, terá chance de efetivação.
Pretérito perfeito do indicativo + pretérito imperfeito do subjuntivo:
O diretor insistiu que ficássemos até o fim do dia.
Pretérito imperfeito do subjuntivo + futuro do pretérito do indicativo:
Se você chegasse mais cedo, eu prepararia o almoço.
2. Correlações que envolvem tempos compostos
Presente do indicativo + pretérito perfeito composto do subjuntivo:
Espero que ela tenha concluído o trabalho.
Futuro do subjuntivo + futuro do presente composto do indicativo:
Quando você voltar, ele játerá concluídoa pintura do escritório.
Pretérito mais-que-perfeito composto do subjuntivo + futuro do pretérito composto do indicativo:
Se você tivesse falado comigo, eu teria avisado o diretor.
Embora a lista de correlações possa levar o leitor a pensar que se trata de um tema complicado, mais especificamente porque, de modo geral, conhecemos bem a denominação dos tempos verbais simples e pouco a dos tempos compostos, é preciso lembrar que o uso independe de denominações. São os sentidos a serem expressos que guiam a expressão. E quanto maior for a variedade de tempos e formas verbais, maiores serão as possibilidades de significar a experiência humana de tempo.
O que denominamos “regras da gramática” são apenas sistematizações feitas a partir de usos considerados mais adequados, por isso são flexíveis e passíveis de mudanças. São apenas orientações que nos auxiliam a compreender melhor como funciona uma língua para produzir sentidos.