Crase facultativa: em quais contextos?
 



Dicas

Crase facultativa: em quais contextos?

Neiva Tebaldi Gomes


Este é um assunto que, com frequência, deixa dúvidas. Outras vezes, as explicações para o fato de o sinal  de crase ser facultativo parecem pouco convincentes. 

Vamos aqui refletir sobre os contextos de crase facultativa. Par isso, precisamos antes lembrar que a crase (que é a fusão de a + a) ocorre apenas se:

a) antes do “a” (ou “as”) vier um verbo ou um nome que exigem a preposição “a”. Exemplos: Recorrer a, dirigir-se a, chegar a, referência ou referente a, relativo ou relativamente a, acesso ou acessível a etc., etc;

b) e depois desse “a” preposição houver outro “a” (ou “as”) artigo acompanhando um substantivo feminino.Exemplos: a justiça,  a(s) filha(s), a cidade, a(s) petição(ões), a(s) discussão(ões), a cultura, etc, etc, (Observação: o segundo “a” também pode ser o pronome demonstrativo ou o “a” de aquele(s), aquela(s), aquilo, mas esse será o tema da próxima postagem).

Vejamos exemplos de “a” proposição + “a” artigo:

Recorrer à justiça.

O pai dirigiu-se à filha. O pai dirigiu-se às filhas.

Chegou à cidade.

Referente à petição já mencionada…. Referente às petições…

Relativamente à discussão anterior… Relativamente às discussões anteriores.

Acesso à cultura. Acesso às plataformas de embarque.

Nota 1: Os substantivos nem sempre vêm acompanhado de artigo. Isso ocorre quando o substantivo não é definido. Ex.: Refiro-me a petições já arquivadas. Neste caso, ocorre apenas o “a” preposição, porque o substantivo “petições” não foi definido. Se o substantivo viesse acompanhado de artigo deveria estar no plural (as), e o sinal de crase seria obrigatório.

Agora vamos aos casos de crase ditos facultativos:

1) Diante de pronome possessivo singular. Exemplo: Refiro-me a (ou à) minha irmã.

Qual é a explicação para o fato de o sinal de crase ser facultativo diante de pronomes possessivos? O sinal de crase é facultativo porque diante de pronome possessivo o uso de artigo é uma opção. Posso dizer, por exemplo, “Minha irmã é inteligente.” ou “minha irmã é inteligente.” Esse artigo, na verdade, é desnecessário, mas há regiões, como aqui no Sul, em que o uso desse artigo é comum. 

Nota 2: O sinal de crase é facultativo apenas diante de pronome possessivo singular, porque se a frase for “Refiro-me às minhas irmãs”, teremos aí dois “as”: um “a” proposição exigido pelo verbo, mais “as” artigo. Nesse caso, o sinal de crase seria obrigatório.

2) Diante de nomes de pessoa femininos. Exemplo: Dirigiu-se (ou à) Laura.

Por que é facultativo esse sinal de crase? Porque usar o artigo diante de nomes femininos de pessoas é também uma opção. Pode-se dizer:  Laura é estudante ou A Laura é estudante. E, embora a presença do artigo possa ser atribuída à expressão de maior familiaridade, trata-se mais de uma questão de uso regional.

3) Depois da preposição “até”. Exemplo: Deveríamos ir até a (ou à) margem do lago.

Por que aqui é facultativo o sinal de crase? Porque nesse contexto tanto pode ser empregada a preposição até quanto a locução até a

Enfim, para evitar erros quanto ao uso do sinal de crase, é preciso (e suficiente) verificar a possibilidade da ocorrência de dois “as”, sendo o primeiro sempre uma preposição, razão pela qual se diz que crase é uma questão de regência verbal ou nominal.

 

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