O principal erro gramatical cometido por escritores
 



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O principal erro gramatical cometido por escritores

Escrita Criativa


A professora Doutora Neiva Maria Tebaldi Gomes afirma que, nas revisões mais recentes, a regência verbal, principalmente em períodos compostos construídos com orações adjetivas, tem sido o maior erro gramatical cometido por escritores. Nesses períodos, é comum a omissão da preposição (quando exigida) antes de pronome relativo, como no exemplo abaixo:

“Cantora que, até poucos dias, nunca havia ouvido falar”.

A omissão da preposição antes do pronome relativo é uma tendência na oralidade. Assim, se a frase representasse uma fala de um personagem, seria perfeitamente aceitável. Na narrativa do autor, no entanto, a correção gramatical valorizaria a obra. De acordo com a regência tradicional, a frase em questão poderia receber a seguinte reescrita: Cantora na qual (ou da qual, ou de quem) nunca havia ouvido falar.

Os problemas de regência (verbal e nominal) têm se manifestado também no emprego do sinal indicativo de crase e na substituição de nomes por pronomes. É frequente, por exemplo, o uso de lhe(s) em lugar de o(s), a(s). Outro problema comum tem a ver com pontuação, mais especificamente com o emprego de vírgulas.

Durante o processo de revisão, podemos nos deparar com a necessidade de sugerir substituições não por se tratar de “erros”, mas da necessidade de encontrar formas mais apropriadas para dar mais leveza e fluência à linguagem. Ou, então, para valorizar determinadas ideias, porque o valor semântico das palavras depende muito de como as frases são organizadas.

Segundo um filósofo da linguagem, M. Bakhtin, (In. Questões de estilística no ensino da língua), “as formas da linguagem não podem ser estudadas sem que se leve sempre em conta seu significado estilístico”. Para explicar esse ponto de vista, o autor pede que observemos as seguintes frases:

A notícia que eu ouvi hoje me interessou muito.

A notícia ouvida por mim hoje me interessou muito.

Ambas são gramaticalmente corretas e válidas. A diferença entre elas é apenas um detalhe sintático: a transformação de uma oração desenvolvida - que eu ouvi - em uma reduzida - ouvida por mim. Mas esse detalhe produz um efeito de sentido: em ouvida por mim, a ação verbal antes centrada na primeira pessoa (eu) perde destaque e ganha realce a palavra “notícia”. Também fica diminuída a importância da palavra indicativa da circunstância de tempo “hoje”. Mas, vale lembrar, a substituição de qualquer forma da linguagem em um texto deve ser sempre negociada com o autor.

 

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