Revisão de textos, preparação de originais e leitura crítica
 



Dicas

Revisão de textos, preparação de originais e leitura crítica

entrevista com Maiara Alvarez


A revisão textual, preparação de originais e leitura crítica é parte importante do processo de publicação de um livro. A revisora Maiara Alvarez esclarece dúvidas sobre o tema em breve entrevista.

Maiara trabalha desde 2011 com revisão, passando por jornais, relatórios técnicos e trabalhos acadêmicos. Nos últimos quatro anos, focou no mercado editorial, atuando de forma autônoma como produtora editorial, preparadora, diagramadora e revisora. Já colaborou em mais de 50 obras e formou mais de 60 alunos em oficinas sobre revisão.

Escrita Criativa: Qual a diferença entre revisão de textos, preparação de originais e leitura crítica?

Maiara Alvarez: Revisão de texto é um campo de trabalho tanto do mercado editorial quanto útil para outras áreas (como revisão de trabalhos acadêmicos). Dentro do mercado editorial, há algumas funções ou serviços com nomenclaturas que não são totalmente unânimes, mas que provêm do histórico de atuação (como é o caso de preparação de originais) ou de necessidades atuais (como a leitura crítica). De forma abrangente, temos duas etapas em que um revisor profissional atua:


Preparação de originais = (nomenclatura mais comum em grandes editoras) ou leitura crítica (mais comum em serviços terceirizados a autores independentes), em que o revisor analisa a obra com foco no conteúdo (continuidade, construção de personagens, uso de marcas de linguagem, entre outros); há algumas diferenças entre as duas funções a depender do porte da editora e outras pessoas envolvidas no processo (como a presença ou não da figura do editor);

Revisão de prova ou final = o revisor analisa a obra com foco em gramática e ortografia; é um trabalho que procura por "erros" com a finalidade de corrigir desvios do padrão (sendo este padrão definido em processos anteriores).

EC: Como está o mercado para a revisão de textos?

Maiara: É difícil responder a isso com exatidão sem ser pesquisador do mercado. Posso responder a partir da minha experiência: há bastante mercado, ao mesmo tempo que, em geral, o produto livro custa muito pouco no Brasil para o consumidor final quando comparado ao que custa a formação exigida (com razão) dos profissionais da área. Resumindo, são altos e baixos (especialmente se pensar na sazonalidade anual do mercado). Também de forma superficial, atualmente é um mercado com muito espaço para profissionais autônomos (freelas) e poucas vagas para profissionais empregados (que, em geral, recebem um valor mais baixo). Olhando para dados um pouco mais concretos, como a Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, o mercado editorial ainda não recuperou o patamar pré-pandemia, mas está em crescimento, então, julgo ser o momento - com atenção e calma - para quem deseja se inserir no setor.

EC: Com o crescimento da autopublicação, tem surgido mais espaço para revisores de textos e preparadores de originais independentes?

Maiara: Sem dúvida. Acho que o mercado editorial está passando por uma série de mudanças paradigmáticas, há vários modelos de produção que já não funcionam mais. Esse movimento traz coisas boas e ruins. Do lado menos animador, há muitas incertezas, já do lado mais animador, eu vejo muitos caminhos possíveis e uma busca por equidade maior da distribuição de valores financeiros e da possibilidade de exploração de mercados de nicho. E isso é motivador para a cadeia produtora, onde estão os revisores. De forma ilustrativa, ao invés de termos um livro que vende 10 mil exemplares, passamos a ter dez livros que vendem mil exemplares - o que significa mais postos de trabalho.

EC: Por que é útil para um escritor conhecer técnicas de revisão de textos e preparação de originais?

Maiara: Venho dizendo para meus últimos alunos e clientes que a revisão é um guarda-chuva que protege praticamente todo o processo editorial. Okey, talvez seja uma péssima comparação, mas o que quero dizer é que a revisão perpassa toda a produção de um livro. Desde que o autor começa a fazer a segunda versão do seu texto (depois que ele colocou o ponto final e quando vai ler o texto completo pela primeira vez) até as últimas emendas anotadas no boneco impresso, não há um momento na realização de um livro em que não há algo a ser revisado. Bom, esse é o primeiro ponto: o escritor entender a essencialidade da revisão e de como ele também já revisa o próprio texto (ou, pelo menos, deve fazê-lo). Já o segundo ponto é a segurança ao contratar e lidar com profissionais de revisão. Infelizmente, o mercado editorial não é uma bolha de boas práticas e, como qualquer outra área, há profissionais que não estão exatamente preocupados com o melhor resultado possível, nem com a transparência do serviço. Entender como funciona o processo e o que esperar do revisor ajuda o autor a conquistar sua autonomia como produtor do próprio livro.

EC: Quais os principais erros cometidos pelos escritores e identificados no processo de revisão?

Maiara: Vírgulas! É também a parte que eu acho mais difícil de revisar, é a que me dá mais trabalho, pois, em muitos casos, há mais de uma possibilidade do que é "correto" e, muitas vezes, adicionar/retirar vírgulas mexe no enunciado de uma forma bastante significativa. Depois, a pontuação em geral. Baseada na minha experiência de revisora e leitora, escritores brasileiros são bons em grafia e até muito bons no uso dos porquês (embora isso contrarie a percepção comum).

EC: Aumenta a chance de um texto ganhar um concurso ou ser aceito por uma editora ter um original bem editado?

Maiara: Eu não sei dizer o nome de nenhum ganhador de concurso renomado que não tenha tido seu original revisado pelo menos uma vez. E foi aqui em uma aula da Metamorfose que a ganhadora do último prêmio Kindle falou sobre isso: A filha primitiva, de Vanessa Passos, passou por 4 leituras críticas e 11 revisões até a autora considerar a obra pronta. Pessoalmente, já tive o prazer de preparar e revisar o livro O Vizinho Alemão, de Mario Augusto Pool, finalista do Jabuti no ano passado. Acho que é só abrir qualquer livro premiado, ir nas páginas das informações da publicação e olhar se tem nome de preparador e/ou revisor. Eu aposto que tem!

 

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