A escrita e sua potência terapêutica
 



Dicas

A escrita e sua potência terapêutica

Sara Ribeiro


Há algum tempo, a escrita vem sendo estudada pela psicologia como método de ressignificar um evento traumático. O termo escrita terapêutica traz como sugestão exercícios que através da escrita ajudam a transformar emoções diante de um evento a ponto de conseguir conviver em paz com uma experiência dolorosa.

James Pennebaker descobriu, após extensa pesquisa, que nós tendemos a nos sentir mais deprimidos quando guardamos segredos. Que não falar sobre nossos sentimentos pode aumentar nossa propensão a doenças e que a escrita poderia ser uma poderosa ferramenta para nos ajudar a lidar com esses pensamentos secretos.

Através da escrita chamada “Escrita Expressiva”, pode-se narrar os acontecimentos da nossa vida ao invés de criar histórias e personagens fictícios. Essa técnica é a ferramenta através da qual os efeitos terapêuticos da escrita podem ser alcançados.

Estudos afirmam que o escrever altera respostas fisiológicas de doenças crônicas melhorando a saúde de pacientes de câncer, por exemplo. Ao escrever os doentes tornam suportável uma experiência tida anteriormente como pesada demais. Isso abre caminho para uma recuperação, reescrevendo a sua própria história como forma de integração do trauma.

É preciso ter um propósito na escrita, não é sobre escrever qualquer coisa ou apenas descrever o fato. É escrever sobre emoções. Você reconhece as suas emoções? Através da escrita, esse reconhecimento pode ser aguçado.

Segundo o autor da técnica, deve-se levar em consideração alguns pontos para a prática:

1. 15 Minutos Por Dia: Pratique a escrita durante cerca de 15 minutos por dia. De acordo com James Pennebaker, é interessante insistir nessa prática pelo menos por quatro dias seguidos para resultados mais rápidos.

2. Prepare o Ambiente: Escolha um local silencioso e isolado. Desligue o celular e evite qualquer interrupção. Ascenda um incenso, coloque uma roupa confortável.

3. Permita que as palavras fluam: Não se preocupe com gramática e não direcione o texto para alguém específico. O texto deve seguir o fluxo de pensamentos, para externalizar mesmo o diálogo interno.

4. Pode ser escrito ou digitado: Apensas deixe fluir. Estudos mostram que a eficácia também se apresenta se a escrita é manifestada com blog, por exemplo. Seja um blog aberto inclusive para comentários e que alimenta a troca positiva de experiencia ou fechado.

Porém, nem tudo são flores. É imprescindível que você escreva apenas sobre sentimentos e traumas com os quais você se sente confortável em pensar sobre. É sempre bom ter um acompanhamento psicológico durante o processo da escrita terapia, de forma a poder lidar melhor com a catarse advinda da prática.

Embora a Escrita Expressiva possa trazer benefícios, é importante ressaltar que, assim como qualquer técnica terapêutica, nem todas as pessoas podem experimentar dos mesmos sentimentos.

Como levantado pelo próprio Pennebaker, pessoas diferentes podem ter diferentes formas de lidar com eventos traumáticos e a escrita pode contribuir para uma alternativa terapêutica eficaz para aqueles que são, usualmente, mais expressivos.

Para aqueles que encontram alívio na experiência de expressar suas emoções, a escrita pode tornar-se importante para ajudá-los a recuperar-se, física e mentalmente, de situações difíceis. Todavia, quando as pessoas são “empurradas” para expressar sentimentos quando não estão dispostas a fazê-lo, pode aumentar o risco de Transtorno do Estresse Pós-traumático.

Um estudo de 2011 conduzido por Knowles, Wearing e Campos concluiu que, para algumas pessoas, escrever sobre seus piores traumas pode aumentar a ansiedade além de provocar os seguintes sintomas:

Palpitações, hiperventilação, tensão muscular, cefaleia, espasmos no pescoço e nos braços, dores nas costas, tremor das mãos, sensação de cansaço, formigamentos, transpiração, enrubescimento, palidez, vertigem e necessidade frequente de urinar e defecar.

Caso você apresente quaisquer um desses sintomas durante a prática, o indicado é parar imediatamente.

Escreva apenas sobre o que você pode lidar no momento.


Sara Ribeiro é mulher com deficiência, LGBTQ e imigrante. Nascida em Porto Alegre, mora na Irlanda há cinco anos. Em 2021 publicou seu primeiro livro de poesia "Você vai ser chamada de louca". Pesquisadora da escrita terapêutica, ela também compartilha suas descobertas na página @escritaeterapia no Instagram.

 

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