Gerenciar a carreira de escritor está longe de ser uma tarefa simples. Isso porque geralmente as dúvidas são maiores do que as certezas e o caminho mais parece uma prova de resistência do que qualquer outra coisa. Como ainda não existe uma fórmula pronta para todos que desejam trilhá-lo, o jeito é absorver o conhecimento de outros escritores que já acertaram, erraram e aprenderam muito com suas próprias trajetórias até aqui.
Entrevistamos os escritores Airton Ortiz criador do gênero Jornalismo de Aventura, com 17 livros publicados, patrono da 60ª Feira do Livro de POA e vencedor dos prêmios Açorianos, AGES e Prêmio Esso de Jornalismo , Julia Dantas editora, tradutora e doutora em Escrita Criativa, sendo que seu romance de estreia, "Ruína y leveza", foi finalista do prêmio Açorianos e do Prêmio São Paulo de Literatura e Marô Barbieri escritora, professora e contadora de histórias, vencedora do Prêmio AGES por duas vezes, que, por meio de suas experiências em gerenciar suas carreiras, deram dicas para quem deseja ter êxito nessa missão.
Confira a entrevista:
Sabemos que não existe um único caminho ou uma fórmula para gerenciar bem a carreira de escritor. Mas, dentro dos teus objetivos, quais as estratégias e ações que você seguiu e que funcionaram para você? Exemplo: participar de concursos, fazer parcerias, contratar um agente literário, investir em redes sociais, entre outras coisas.
Julia: Sem dúvida, participar de concursos foi fundamental. Foi após ser finalista do prêmio Açorianos para originais inéditos que o Ruína y leveza foi contratado pela editora. Então, mesmo que não se vença um concurso, eles dão visibilidade e referendam a qualidade da obra.
Também foi ainda é importante circular na cena literária local, onde se pode conhecer pessoas da área. Não raro, essas pessoas criam projetos de publicação ou organizam eventos e, como me conheciam, lembravam de me convidar para participar. Nesse sentido, é bom participar de tudo que for possível: alguém vai conhecer alguém que conhece alguém que vai fazer um novo convite ou conhece alguém de uma editora.
Presença nas redes sociais é uma boa coisa, embora seja algo que eu particularmente faço muito mal. Ainda assim, é importante ter um perfil, mesmo que não muito atualizado, para que as pessoas tenham um modo fácil de entrar em contato.
Em resumo: eu me esforcei para ganhar "validação", estive disponível para convites e me esforcei para estar visível.
Marô: Acho que a primeira providência foi delimitar objetivos. Meus objetivos foram e são, até hoje, formar mediadores (com oficinas de formação); formar leitores (participando de feiras de livros e eventos correlatos); editar meus próprios livros (para ter total controle sobre sua comercialização); organizar uma rede de contatos com entidades culturais que promovam livros, leitura e literatura (SESC, SENAI, por exemplo).
Vale dizer que, nesta época, os contatos se faziam presencialmente, pelo telefone e pelo correio. Não havia internet nem redes sociais. Atualmente, vale a pena se fazer presente no mundo virtual, mas sempre com moderação. Informação de menos gera falta, informação demais cansa.
Para formar mediadores, organizei oficinas que foram oferecidas a escolas e municípios. Oficinas são geradoras de público potencialmente consumidor (de livros e de outras oficinas).
Para formar leitores, desenvolvi vários formatos de interação com o público infantil e infanto-juvenil, usados para atender os diversos grupos com os quais trabalhei.
Para editar livros, inicialmente precisei recorrer às minhas próprias economias e fazer uso da minha capacidade de crédito. Posteriormente, tendo comercializado os livros já editados, usei esta reserva financeira para novas edições.
Quanto à relação com entidades promotoras de eventos, apresentei projetos de trabalho adequados aos interesses de cada uma, os quais, uma vez aprovados, foram desenvolvidos com muita responsabilidade e profissionalismo.
Aliás, uma postura profissional correta e competente (observação de horários, educação, seriedade, domínio de conteúdos) será sempre necessária para atuar no mercado. Em tempo, projetos diferentes e criativos são melhor recebidos.
Que dicas você daria para os escritores que estão iniciando a jornada de escrita e publicação? Aquelas dicas que você gostaria de ter recebido quando começou.
Julia: Além do que já mencionei, acho que a melhor forma de gerenciar a carreira é aquela que conseguimos manter com consistência. Por exemplo, eu passei muito tempo tentando ter um "perfil relevante" no Instagram, até aceitar que aquilo não era para mim. Em vez de sofrer com isso, eu apenas mantenho um perfil focado em trabalho e concentro minha atenção e meus esforços em atividades nas quais eu me saio melhor. Tem gente que se dá bem com as redes sociais, tem gente que vai preferir enviar uma resenha para um site literário, tem quem vai organizar um sarau, quem pode ministrar uma oficina, enfim... Me parece que o melhor caminho é fazer aquilo que nos sentimos bem em fazer. Caso contrário, acabamos desistindo.
Marô: Não tenha pressa. Uma carreira se faz com vivências. As experiências são fundamentais, pois vão oferecer conhecimento e segurança para sua atuação e para eventuais ajustes que se façam necessários em seus projetos. E tenha sempre uma postura séria e comprometida com o que você faz e com o que você oferece ao mercado.
Airton: Escreva um bom livro; Tenha alguém de sua confiança para ler os seus originais e fazer observações sérias, especialmente apontar os erros; Publique por uma editora comercial. Você terá uma equipe de profissionais altamente qualificados para trabalhar pelo seu livro; Tenha um agente literário, ele é a pessoa mais indicada para negociar seus contratos com as editoras, exigir que o livro seja divulgado e as prestações de conta estejam sempre em dia. O agente literário conhece o mercado, sabe o que vende e o que não vende. Como ele ganha um percentual dos seus direitos autorais, então ele é o maior interessado no sucesso do seu livro.