Quando conversamos ou assistimos a entrevistas de escritores consagrados ou com várias obras publicadas, é comum nos depararmos com um certo desconforto da parte deles ao falarem sobre o primeiro livro. As razões podem ser inúmeras. Com o passar do tempo, muita coisa muda: interesses, certezas, convicções, posicionamentos. Como escritores, podemos mudar de gênero literário, de estilo de escrita, podemos, inclusive, aprimorar a qualidade das nossas obras (e que bom quando isso acontece). Muitas vezes, todas essas mudanças provocam uma aversão do escritor aos seus primeiros escritos. É natural, mas não precisa ser sempre assim.
Este artigo é para você que não quer ter esse sentimento de vergonha quando lembrar ou reler o seu primeiro livro ou para você que deseja transformar essa sensação. Confira as dicas do que fazer para não ter vergonha do primeiro livro.
1. Não se deixe levar pela pressa e pela ansiedade de publicar o primeiro livro
Geralmente, o primeiro livro é mais um sonho do que qualquer outra coisa. E, como tal, ele costuma vir recheado de idealizações e expectativas, como se fosse a única forma de ser escritor ou como se fosse a única porta para a literatura. É claro que publicar um livro é um passo importante na carreira de qualquer autor, mas, exatamente por ser tão relevante, ele deve ser encarado com um olhar mais racional.
Publicar o primeiro livro deveria acontecer quando o escritor já adquiriu uma certa maturidade para lidar com o processo. Mas sabemos que nem sempre isso é possível. Difícil dizer para alguém que sonha em escrever e publicar seu livro que deve ir com mais calma, não é?
A pressa e a ansiedade em publicar o primeiro livro de uma vez por todas podem levar à escolha de um tema com o qual o autor não tem tanta intimidade, e isso interfere na qualidade e na verdade do texto, já que o escritor não vai se envolver tanto com ele. Essa falta de envolvimento do autor vai impactar em todas as fases do livro, desde a escrita até a venda. E a consequência mais provável e temida é sentir vergonha do primeiro livro.
2. Estude
Estudar literatura é fundamental para se tornar um escritor mais preparado. A leitura de outras obras é condição básica para escrever e continuar escrevendo, mas estudar é o que leva ao próximo nível, possibilitando, inclusive, que o escritor dê aulas, cursos e palestras. Se você reparar, muitos escritores que estão se destacando e sendo finalistas de concursos literários hoje têm um amplo currículo como aluno.
Atualmente existem ótimas opções de escolas e cursos universitários ligados à escrita e à literatura, basta se comprometer com o estudo contínuo e se entregar aos aprendizados, que são inúmeros.
3. Participe de oficinas e grupos de escrita
Nas oficinas ou grupos de escrita, o escritor tem a oportunidade de testar a aceitação do público diante da sua obra. Os colegas leem, opinam e sugerem, trocam dicas e motivam a frequência na produção de textos. Isso nem sempre é possível nos cursos devido à maior parte do tempo estar limitada ao conteúdo.
Essa experiência faz toda a diferença principalmente para quem deseja escrever e publicar um livro. O autor adquire maior segurança em relação à sua escrita, mais clareza quanto ao público dos seus textos, cria uma rotina de escrita com regularidade, o que beneficia a sua carreira como um todo, além de muitas outras vantagens.
Leia também:
"A importância de participar de grupos de escrita, por Escrita Criativa"
4. Submeta a sua obra à leitura crítica e a leitores beta
Nós, como autores, não temos a capacidade de nos distanciarmos da nossa obra e de lermos como se vivêssemos fora do processo. Já estamos envolvidos desde o início e, quer queiramos ou não, nos apegamos a cada palavra escrita ali. Não se culpe, é natural.
E aquela pressa da qual falei há poucos parágrafos pode fazer com que pulemos a etapa da leitura crítica, mas isso é perigoso. Por quê? Porque, nesse caso, não será você que escolherá o seu primeiro leitor, ele escolherá a sua obra e vai lê-la como consumidor e não como amigo ou profissional especializado. Entende a diferença?
Se a sua editora já tem a leitura crítica embutida no processo, ótimo, caso contrário, contrate um profissional para fazê-la. Ele vai olhar para aspectos amplos do texto, como estrutura narrativa, função dos personagens, concisão, subtexto, muitas vezes propondo cortes de frases, parágrafos ou até capítulos inteiros, bem como adequação de linguagem. Além disso, ele pode apontar problemas de conteúdo que possam soar preconceituosos ou ofensivos (leitura sensível).
Os leitores beta, por sua vez, são seus primeiros leitores, que mesmo sem um olhar tão apurado quanto o leitor crítico, podem ajudar com as primeiras impressões sobre a sua obra. (leia nosso texto
"Leitura crítica - o que é, como trabalhar com isso e quem contrata, por Escrita Criativa")
5. Não, você não pode revisar o seu livro
Sei que é tentador dizer que você mesmo vai revisar o seu livro quando acabar de escrevê-lo, mas está mais do que comprovado que isso não funciona. Como acabei de dizer, enquanto escritor, você já está mais do que envolvido com a escrita da obra, já leu milhões de vezes, mas isso não quer dizer que você, de tanto ler, já revisou tudo.
Para este trabalho, confie em alguém com experiência em revisão de livros - porque revisar um livro é bem diferente de revisar textos pontuais -, e, depois da revisão, leia o livro pela última vez. É sua a responsabilidade pela sua obra e não do revisor, lembre-se disso.
6. Enxergue o primeiro livro como o marco da sua trajetória
Veja a sua obra com os olhos da época em que foi escrita e publicada, considerando o seu conhecimento e maturidade naquele momento. É claro que sempre devemos buscar melhorar, mas não adianta nos culparmos pelo que já escrevemos. É um processo de aprendizado contínuo e, somente através dele, é possível evoluirmos na escrita.
Portanto, como todo escritor precisa de boas histórias para contar, guarde bem o seu primeiro livro no seu baú de tesouros. Ele vale muito e sempre pode ensinar e inspirar outras pessoas que estão trilhando esse lindo e árduo caminho. Orgulhe-se!