O Prêmio Nobel de Literatura, desde 1901, premia autores de todo o mundo pela importância do conjunto de suas obras, ou, nas palavras de Alfred Nobel, quem produziu "no campo da literatura o trabalho mais notável em uma direção ideal". Em 2021, para surpresa de todos, inclusive do próprio autor, o vencedor foi o tanzaniano Abdulrazak Gurnah, cujos romances são destacados pela Academia Sueca como uma descrição comovente dos efeitos do colonialismo na África.
Segundo entrevista do vencedor deste ano ao jornal The Guardian, as questões que apresento não são novas, mas se não são novas, são fortemente influenciadas pelo particular, pelo imperialismo, pelo deslocamento, pelas realidades do nosso tempo.
O prêmio segue algumas tradições, como é comum em premiações com tanto tempo de existência. Uma característica comum a maioria dos vencedores do prêmio é a escrita em língua inglesa. O único representante da língua portuguesa é José Saramago, que ganhou o prêmio em 1998. Outra tradição é premiar autores praticamente desconhecidos pelo público em geral.
Abdulrazak Gurnah, o vencedor deste ano (2021), se insere nessas características comuns a maior parte dos premiados com o Nobel, como escrever em língua inglesa e ser pouco conhecido pelo grande público. Segundo Gurnah, ele sempre escreveu em inglês, embora o suaíli fosse sua primeira língua, porque em Zanzibar o acesso à literatura em suaíli era inexistente.
O autor concorreu com nomes considerados favoritos ao prêmio deste ano, como a francesa Annie Ernaux, o queniano Ngũgĩ wa Thiongo, o japonês Haruki Murakami, o sul-coreano Ko Un, a guadalupense Maryse Condé e a chinesa Can Xue. Outros escritores que costumam estar sempre entre as apostas são Don Delillo, Salman Rushdie, Adonis, Jon Fosse, Mircea Cărtărescu, Hilary Mantel e Margaret Atwood.
Dos 118 vencedores, Gurnah é o sexto de origem africana a ganhar o prêmio, depois do argelino Albert Camus (1957), do nigeriano Wole Soyinka (1986), do egípcio Naguib Mahfouz (1988), e dos sul-africanos Nadine Gordimer (1991) e J. M. Coetzee (2003).
Mas, afinal, você conhece o o Prêmio Nobel de Literatura?
O prêmio existe desde 1901. Tudo começou após a morte do químico sueco Alfred Bernhard Nobel, em 1896. O inventor da dinamite deixou em testamento a vontade de que parte da sua fortuna fosse utilizada para premiar as pessoas que no ano anterior tivessem ajudado de alguma forma a humanidade.
Desconfia-se que a culpa que Nobel sentia pelas consequências do uso da dinamite foi a razão pela qual ele tenha deixado a sua fortuna para esse fim. Somado a isso, em 1888, um jornal francês o chamou de mercador da morte, o que teria aumentado esse sentimento por parte do químico. O Prêmio Nobel da Paz, especificamente, pode ter sido criado por influência de Bertha von Suttner, pacifista austríaca e amiga de Nobel.
Cinco anos após sua morte, a fundação que administra seus bens instituiu o prêmio Nobel. Desde então, comissões de intelectuais se reúnem uma vez por ano, em outubro, e elegem os vencedores do prêmio em Literatura, Paz, Física, Química e Medicina e Fisiologia, que são apresentados em Estocolmo, em uma cerimônia realizada no dia 10 de dezembro, data de nascimento de Nobel.
A escolha é feita por quatro instituições. A Academia Real das Ciências da Suécia, entidade que promove pesquisas científicas, é responsável pelos prêmios de Física, Química e Economia. O Instituto Karolinska, grande universidade de Estocolmo, indica os ganhadores em Medicina. A Academia Sueca de Letras escolhe o vencedor em Literatura, e o Comitê Nobel Norueguês, formado por pessoas indicadas pelo Parlamento daquele país, entrega o prêmio da Paz. Essas instituições enviam formulários a cientistas, professores e outros intelectuais do mundo todo pedindo que sugiram candidatos aos prêmios. Após as indicações, comitês de especialistas examinam os dossiês sobre cada candidato. Existe um comitê para cada área premiada e todos eles indicam, entre setembro e outubro, o melhor candidato em cada categoria. Os membros com direito a voto nas quatro instituições geralmente aceitam as indicações dos comitês, mas podem optar por outros nomes, se quiserem.
O candidato que recebe mais da metade dos votos é nomeado o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura. Ninguém pode ser eleito sem ter feito parte da lista pelo menos por duas vezes. Por isso, muitos nomes reaparecem ao longo dos anos. Os vencedores recebem um diploma, uma medalha de ouro de 18 quilates e uma quantia de 8 milhões de coroas suecas, cerca de 800 mil dólares.
Confira todos os vencedores do prêmio Nobel de Literatura até hoje
> Sully Prudhomme (França - 1901);
> Theodor Mommsen (Alemanha - 1902);
> Bjornstjerne Bjornson (Noruega - 1903);
> Frédéric Mistral (França) e José Echegaray (Espanha) - 1904;
> Henryk Sienkiewicz (Polônia -1905);
> Giosuè Carducci (Itália - 1906);
> Rudyard Kipling (Reino Unido - 1907);
> Rudolf Christoph Eucken (Alemanha - 1908);
> Selma Lagerlöf (Suécia - 1909);
> Paul von Heyse (Alemanha - 1910);
> Maurice Maeterlinck (Bélgica - 1911);
> Gerhart Hauptmann (Alemanha - 1912);
> Rabindranath Tagore (Índia - 1913);
> Em 1914, não houve premiação; > Romain Rolland (França - 1915);
> Verner von Heidenstam (Suécia - 1916);
> Karl Adolph Gjellerup (Dinamarca) e Henrik Pontoppidan (Dinamarca) 1917; > Em 1918, não houve premiação; > Carl Spitteler (Suíça - 1919);
> Knut Hamsun (Noruega - 1920);
> Anatole France (França - 1921);
> Jacinto Benavente (Espanha - 1922);
> William Butler Yeats (Irlanda - 1923);
> Władysław Reymont (Polônia - 1924);
> George Bernard Shaw (Irlanda 1925);
> Grazia Deledda (Itália - 1926);
> Henri Bergson (França 1927);
> Sigrid Undset (Noruega 1928);
> Thomas Mann (Alemanha - 1929);
> Sinclair Lewis (Estados Unidos - 1930);
> Erik Axel Karlfeldt (Suécia - 1931);
> John Galsworthy (Reino Unido - 1932);
> Ivan Bunin (nascido na Rússia, residente na França - 1933);
> Luigi Pirandello (Itália - 1934);
> Em 1935, não houve premiação; > Eugene OuNeill (Estados Unidos - 1936);
> Roger Martin du Gard (França - 1937);
> Pearl Séc. Buck (Estados Unidos - 1938);
> Frans Eemil Sillanpää (Finlândia - 1939);
> Entre 1940 e 1943, não houve premiação; > Johannes Vilhelm Jensen (Dinamarca - 1944);
> Gabriela Mistral (Chile - 1945);
> Hermann Hesse (nascido na Alemanha, residente na Suíça - 1946);
> André Gide (França - 1947);
> T. S. Eliot (nascido nos Estados Unidos, residente no Reino Unido - 1948);
> William Faulkner (Estados Unidos - 1949);
> Bertrand Russell (Reino Unido - 1950);
> Pär Lagerkvist (Suécia - 1951);
> François Mauriac (França - 1952);
> Winston Churchill (Reino Unido - 1953);
> Ernest Hemingway (Estados Unidos - 1954);
> Halldór Kiljan Laxness (Islândia - 1955);
> Juan Ramón Jiménez (Espanha - 1956);
> Albert Camus (França - 1957);
> Boris Leonidovich Pasternak (União Soviética - 1958);
> Salvatore Quasimodo (Itália - 1959);
> Saint-John Perse (França - 1960);
> Ivo Andrić (Nascido na Áustria, residente na Iugoslávia - 1961);
> John Steinbeck (Estados Unidos - 1962);
> Giorgos Seferis (Grécia - 1963);
> Jean-Paul Sartre (França - 1964);
> Mikhail Sholokhov (União Soviética - 1965);
> Shmuel Yosef Agnon (nascido na Áustria e residente em Israel) e Nelly Sachs (nascida na Alemanha e residente na Suécia) 1966; > Miguel Ángel Astúrias (Guatemala - 1967);
> Yasunari Kawabata (Japão - 1968);
> Samuel Beckett (Irlanda - 1969);
> Aleksandr Isayevich Solzhenitsyn (União Soviética - 1970);
> Pablo Neruda (Chile - 1971);
> Heinrich Böll (Alemanha - 1972);
> Patrick White (nascido no Reino Unido, residente na Austrália - 1973);
> Eyvind Johnson (Suécia) e Harry Martinson (Suécia) 1974; > Eugenio Montale (Itália - 1975);
> Saul Bellow (Nascido no Canadá, residente nos Estados Unidos - 1976);
> Vicente Aleixandre (Espanha - 1977);
> Isaac Bashevis Singer (nascido na Rússia, residente nos Estados Unidos - 1978);
> Odysseas Elytis (Grécia - 1979);
> Czesław Meułosz (nascido na Polônia, residente nos Estados Unidos - 1980);
> Elias Canetti (Bulgária - 1981);
> Gabriel García Márquez (Colômbia - 1982);
> William Golding (Reino Unido - 1983);
> Jaroslav Seifert (nascido na Áustria, residente na Checoslováquia - 1984);
> Claude Simon (França - 1985);
> Wole Soyinka (Nigéria - 1986);
> Joseph Brodsky (nascido na União Soviética, residente nos Estados Unidos - 1987);
> Naguib Mahfouz (Egito - 1988);
> Camilo José Zela (Espanha - 1989);
> Octavio Paz (México - 1990);
> Nadine Gordimer (África do Sul - 1991);
> Derek Walcott (Santa Luzia - 1992);
> Toni Morrison (Estados Unidos - 1993);
> Kenzaburō Ōe (Japão - 1994);
> Seamus Heaney (Irlanda - 1995);
> Wisława Szymborska (Polônia - 1996);
> Dario Fo (Itália - 1997);
> José Saramago (Portugal - 1998);
> Günter Grass (Alemanha - 1999);
> Gao Xingjian (nascido na China, residente na França - 2000);
> V. Séc. Naipaul (nascido em Trinidad e Tobago, residente no Reino Unido - 2001);
> Imre Kertész (Hungria - 2002);
> J. M. Coetzee (África do Sul - 2003);
> Elfriede Jelinek (Áustria - 2004);
> Harold Pinter (Reino Unido - 2005);
> Orhan Pamuk (Turquia - 2006);
> Doris Lessing (Reino Unido - 2007);
> Jean-Marie Gustave Lhe Clézio (França - 2008);
> Herta Müller (Alemanha - 2009);
> Mario Vargas Llosa (Peru - 2010);
> Tomadas Tranströmer (Suécia - 2011);
> Mo Yan (China - 2012);
> Alice Munro (Canadá - 2013);
> Patrick Modiano (França - 2014);
> Svetlana Aleixievich (Bielorrússia - 2015);
> Bob Dylan (Estados Unidos - 2016);
> Kazuo Ishiguro (Reino Unido - 2017);
> Olga Tokarczuk (Polônia - 2018);
> Peter Handke (Áustria - 2019);
> Louise Glück (Estados Unidos - 2020);
> Abdulrazak Gurnah (Tanzânia - 2021).