O tanzaniano Abdulrazak Gurnah, de 73 anos, atendeu ao telefone na cozinha de sua casa e ficou sabendo que era o vencedor do prêmio Nobel de Literatura e que ganharia 10 milhões de coroas suecas, o equivalente a 6,28 milhões de reais.
Nascido em 1948 na ilha de Zanzibar, no Oceano Índico, Gurnah partiu para a Inglaterra como refugiado no final da década de 1960. Após a libertação pacífica do domínio colonial britânico em 1963, Zanzibar passou por uma revolução que, sob o regime de Abeid Karume, levou à opressão e a perseguição de cidadãos de origem árabe.
Como Gurnah fazia parte do grupo étnico perseguido, após terminar os estudos, com 18 anos, foi obrigado a deixar a sua família e fugir do país. Havia estudado na Universidade Bayero Kano, na Nigéria, e de lá se transferiu para a Universidade de Kent, onde se doutorou em 1982. Seus estudos e sua literatura tratam do pós-colonialismo e do colonialismo, principalmente no que tangem à África, Caribe e Índia.
Foi só em 1984 que ele conseguiu voltar a Zanzibar e reencontrar seu pai pouco antes de ele morrer. Até a recente reforma, Gurnah foi professor de Inglês e Literaturas Pós-coloniais na Universidade de Kent em Canterbury, onde se aposentou há pouco tempo. Hoje vive em Brighton, sul da Inglaterra.
Gurnah começou a escrever aos 21 anos, quando era refugiado no Reino Unido. Desde então, já publicou vários contos e 10 romances, todos inéditos no Brasil: Memory of Departure (1987); Dottie (1990);Paradise (1994), indicado ao Booker Prize e ao Whitebread Prize; Admiring Silence (1996); By the sea (2001); Em la Orilla (2003); Desertion (2005); The last gift (2011); Gravel heart (2017); Afterlives (2020).
Segundo o Comitê do Nobel de Literatura, "a dedicação de Abdulrazak Gurnah à verdade e sua aversão à simplificação são impressionantes. Seus personagens se encontram em um hiato entre culturas e continentes, entre uma vida que existia e uma vida que surge; em um estado de insegurança que nunca pode ser resolvido. Merecedor do prêmio por sua comovedora descrição dos efeitos do colonialismo na África e do destino dos refugiados, no abismo entre diferentes culturas e continentes.
Anders Olsson, membro da Academia, diz que em seu magnífico último livro ele se afasta das descrições estereotipadas e abre nosso olhar a uma África culturalmente diversa, pouco conhecida em outras partes do mundo.