O termo Poesia de Testemunho ou o Testemunho da Poesia foi explorado pelo poeta, ensaísta e tradutor polonês Czesław Miłosz, em suas seis conferências, de nome homônimo, produzidas para a Cátedra de Poesia da Universidade de Harvard, em 1980, ano em que também recebeu o Nobel da Literatura.
Nos ensaios, Miłosz invoca a especificidade da produção poética moderna do ponto de vista de sua Europa, a fim de passar criticamente as linhas de força dessa categoria. Segundo ele, na Polônia deu-se o encontro do poeta europeu com o inferno do século XX, o que confere ao caso o aspecto de um laboratório, isto é, permite verificar o que ocorre com a poesia moderna em determinadas condições.
Dessa forma, tendo como pano de fundo os acontecimentos históricos da primeira metade do século passado, em especial o Holocausto e a onda de totalitarismos que se espalhou por todo Leste Europeu, nasce a necessidade de comunicar o incomunicável.
Nesse momento, o poeta e a poesia têm seu papel ressignificado, transformando a arte de encantar e de redescobrir a linguagem em grito. Grito de pavor, de revolta e de dor. O autor está junto de seu povo no perímetro da morte iminente. É uma poesia que vem de dentro do inferno e chega até nós pelas vias mais inesperadas alertando, testemunhando, ensinando e chocando.
Ao nos depararmos com esses textos, podemos apenas imaginar como foram criados em esconderijos, esquivando-se da morte e tendo que conviver com o extermínio. Refletem a experiência de estar vivo em um certo lugar e um determinado tempo, carregando um valor inestimável pelas emoções e experiências nele contidas, além de terem sobrevivido às areias do tempo e às mortes trágicas de muitos de seus autores, leitores e ouvintes.
Lauren Bassi foi estudante do curso de Letras - Polonês da Universidade Federal do Paraná, cursou Cinema e Audiovisual e hoje atua como redatora publicitária. Nas horas vagas, escreve e pesquisa sobre literatura eslava e é uma das alunas do Curso Livre de Formação para Escritores.